A LIVE que aconteceu ontem sobre a heróica luta em Belém do Pará para salvar vidas no pico da epidemia foi maravilhosa e emocionante. Um grupo de médicos jovens, de várias especialidades, decidiu salvar vidas. Colapso total na rede hospitalar. Trataram os pacientes em fases moderadas e graves da doença em casa. Arriscaram tudo para salvar vidas pela absoluta falta de leitos nas unidades de saúde pública e privadas. E cumpriram sua missão. Nesse período 32 médicos na linha de frente faleceram por COVID-19. Todos os seus nomes foram lidos durante a reunião com sala para 500 médicos de todo o país. Usaram os próprios conhecimentos e a consultoria de Dra. Marina Bucar da Espanha - que nunca usou pulsoterapia com corticoides de forma domiciliar - e de Dr. Roberto Zeballos de São Paulo. Um óbito em 300 pacientes em fase muito grave, com queda de saturação importante, todos de grupos de risco. Como podemos continuar a não tratar nas fases iniciais da doença antes que ela se transforme no Dragão Covidiano? Usamos essa palavra na abertura de nosso protocolo de tratamento pré-hospitalar. Um protocolo multidisciplinar definido pela experiência de vários médicos de todo o Brasil. Não é um protocolo pernambucano mas um protocolo brasileiro. A Folha de São Paulo publicou uma matéria no seu suplemento de saúde, hoje, em que nos chama de desconhecedores da saga de Dom Quixote. Veio da frase de agradecimentos do protocolo que é genial:
- Este protocolo nasceu da angústia dos Médicos que se viram frente a frente com um inimigo desconhecido mas que, a exemplo de Dom Quixote, ergueram a lança e foram para cima do Dragão Covidiano ao grito de “vamos à luta para a implementação de um Tratamento Pré-Hospitalar!”.-
Dom Quixote é o símbolo do idealista e sonhador. Na sua loucura lutou com sua lança contra moinhos de vento. O Dragão Covidiano foi a melhor definição para essa doença, no nosso entusiamo de finalização de um trabalho que consumiu 30 horas de reuniões online durante sete dias. Uma doença de mil faces que tira e tirou a vida de milhares de pessoas no mundo inteiro. Interpretaram a nós médicos como loucos e cheios de um idealismo ridículo. Nos chamaram de ignorantes porque São Jorge lutou contra um dragão. Dom Quixote lutou contra a maldade representada por moinhos de vento. Esse texto é linguagem poética. O dragão covidiano é difícil de enfrentar e com todas as controvérsias políticas e da mídia, médicos de todo o país saíram de suas posições de conforto para tentar salvar vidas. De forma voluntária e de forma anônima. Conseguindo os medicamentos confiscados e desaparecidos das farmácias para distribuição aos que precisam ou que não encontram na hora em que precisam. Usar São Jorge contra o dragão era trazer religião para um assunto médico que depende de atitudes médicas. Gostamos do símbolo de Dom Quixote representando os médicos que se compadeceram e partiram para a luta contra tudo e contra as ordens autoritárias de governantes federais e municipais. O único respaldo no tratamento precoce vem do governo federal que através do Ministério da Saúde publicou um protocolo de tratamento pré-hospitalar e se posicionou de forma correta e firme a favor das drogas consideradas "off label" no tratamento da COVID-19. O Ministério apoiou a luta idealista de Dom Quixote. Algumas cidades brasileiras de diferentes tamanho também adotaram as mesmas medidascom redução clara dos óbitos. Convênios adotaram o tratamento precoce e, salvando vidas, esvaziaram as unidades de terapia intensiva.
O Dragão Covidiano tem a força da destruição através da virulência do novo Coronavírus, através da decisão de não fazer nada, através das mentiras da mídia, através das decisões erradas e não coordenadas das autoridades. Para vencer esse monstro precisamos dos idealistas quixotescos que acreditam que na sua independência como médicos e que usam o livre arbítrio e seus conhecimentos para prescrever os medicamentos que podem curar. Que acreditam que o uso de vários remédios que são conhecidos e testados em grandes grupos de pacientes para outras doenças pode vencer a pandemia que mata pela doença e mata pelos males do confinamento da forma aplicada em muitos lugares do país. Como a Folha de São Paulo nesse artigo citou meu nome dizendo que não conseguiu se comunicar comigo - uma mentira deslavada porque faço telemedicina através do celular e pelo WhatsApp e não fico nem um momento afastada de comunicações. Vou exercer a minha cidadania e exigir da Folha de São Paulo o direito de resposta no mesmo espaço usado nessa reportagem que fez galhofas sobre um assunto muito grave. Os mortos não são estatísticas e acho que deveríamos publicar diariamente seus nomes da forma como se fez em memorial após o atentado de 11 de setembro nos Estados Unidos. Os nomes são públicos, estão nos jornais de cada cidade e temos a obrigação de fazer uma homenagem a eles, mortos sem cerimônias de funerais, publicando seus nomes diariamente. E continuamos, como Dom Quixote o fez contra moinhos de vento, lutando contra um dragão de sete cabeças e sete bocas de fogo. Acredito que a união do país em torno dessa luta pode acabar com a pandemia.
Cristiana Altino de Almeida, médica, uma das que lutam contra o vírus.
Dra Cristiana de Recife. 77 anos de pura inspiração e garra. (a) Dra. Wilse Segamarchi
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