Conceitos, Valores, Crenças, Cultura. Rudolf Frieling . SvH.

RENOVANDO CONCEITOS

Renovando Valores, Crenças, Alterando a Cultura. Rudolf Frieling

Desafios em compreender melhor o ser humano, diante do Bem e do Mal.

Tradução e Comentários por Sonia von Homrich - SvH Conflitos E Vida Counselling Consulting. Revisão 7 de Setembro de 2018

Sonia von Homrich, especialista em Conflitos, desde os Conflitos  individuais até os Corporativos e entre Nações. Especialista em Aconselhamento Espiritual com fundamentos na Ciência de Goethe-Rudolf Steiner (Psicanálise e Counselling),  Administradora de Empresas, atua através do Counselling, da Consultoria, Workshops e Artigos. Experiência Internacional em Mediação e Counselling em Conflitos.

 

O enigma do Ser Humano

A natureza do Cristianismo é inseparável da questão da natureza do homem.  A consciência moderna sente o “stress” crescente da questão: “O que é afinal ser um ser humano?”.   A existência humana não pode mais ser vista de forma óbvia e bem definida, assim é questionada, mais e mais.  Existe afinal de contas um significado para ser “humano”?  Quão frequentemente vemos o colapso das promessas dos milagres da infância e perecemos na rotina do mundo adulto – a promessa não cumprida não-redime.  Quanto mais nos detemos a observar vemos como o poder do pensamento humano resulta nas terríveis realidades do gás venenoso, nas armas químicas e biológicas e na bomba atômica, enquanto um poder emocional não direcionado excursiona na ganância e no ódio.  “O avião de Santos Dumont inventor ao invés de unir pessoas, como era o seu desejo, serve a arte da guerra”.  Somos testemunhas diárias de tragédias resultantes desta nossa inabilidade de viver juntos, em paz, em todos os níveis: povos, raças, classes sociais, vizinhos, famílias, casamentos. “Isso sem nem mesmo considerar a batalha individual para viver, sobreviver”.  Na verdade, todos nós já vivenciamos um sinal interior súbito que anuncia o pensamento: “Como o mundo seria lindo sem pessoas!” Todos conhecemos a história dos prodígios da criação do Brasil, numa piada bem humorada, com a observação depreciativa por parte de Deus ao seu Anjo: “Ah, mas o povinho que eu vou colocar ali…” Muitas pessoas em vários lugares do mundo atual consideram que o mundo seria bem melhor sem pessoas, a natureza seria melhor sem pessoas, a ecologia.

Colocando estas observações de outra forma: “Quão lindo o mundo poderia ser sem a sua criação coroada!”  Essa afirmação aparentemente paradoxal nos confronta, ficamos cara a cara com os enigmas da existência humana.  Que tipo de criatura peculiar é essa que por um lado é um milagre da criação divina e ao mesmo tempo é a mais maldosa e terrível criatura dentre todas as bestas selvagens?  Não existe mesmo algo muito errado no próprio ser humano? Como ver sentido nestas contradições? “Quantas vezes me foi perguntado em minha infância se o homem nascia bom e a sociedade o corrompia ou se o homem não nascia bom...”  É exatamente neste nosso árduo trabalho para dar sentido a estes enigmas que estão sempre a nos cutucar e oprimir que se nos oferece a maturidade para reconhecer e aceitar a “cristologia”.  Como seres modernos estamos aptos a olhar a cristologia com novos olhos e com o que há de melhor de nossa consciência intelectual e espiritual.  Devemos à ciência de Goethe-Steiner também chamada de Antroposofia  (Sabedoria do Homem, do Ser Humano) ou Ciência Espiritual, o fato de estarmos aptos a ver a cristologia em toda a sua grandeza e como a mais decisiva relação para com a humanidade. Este corpo de conhecimento tornou-se disponível para nós através de Rudolf Steiner.

Embora o Cristianismo tenha entrado nas páginas da história apenas num determinado momento histórico, devemos ver a Cristologia num contexto bem mais amplo.  Desde o seu início, a Cristologia  incluiu em sua visão o mundo de sabedoria das eras passadas como é preservado nas páginas do Velho Testamento.  Vamos primeiro dirigir nossa atenção para a pré-história da Cristandade.

A criação do Homem

A sabedoria antiga da história bíblica da criação vê o ser humano como originado na pureza do mundo divino.  Essa sabedoria fala de uma intenção definida, um objetivo específico que se coloca diante do mundo divino quando este traz o ser humano à existência. Deus criou o Homem (homem/mulher) “à sua própria imagem”. Semelhante a Deus,  este era o grande objetivo, o objetivo valorizado por Deus, o qual irradiou totalmente sobre a criação do Homem.

No que consiste essa semelhança com Deus?  Fosse o ser humano mais uma criatura, mais um produto da criação, não obstante ser ou não uma quase-perfeita criação, esta realização ainda não faria justiça ao objetivo exaltado na consagração do ser humano.  O ser humano mereceria ser chamado de imagem de Deus se ele também fosse um ser criativo, assim, algo além do que apenas ser um produto da criação. O ser humano está em harmonia com o propósito divino apenas e somente quando ele interpenetra em si esta sua própria criatividade, no centro pessoal de seu ser, a partir desta essência, deve agir em liberdade e amor, mantendo-se na companhia da bondade divina. Um ser assim livre e autodeterminado, uma “individualidade” no melhor sentido da palavra, não pode simplesmente aparecer (na linguagem de hoje) como um “produto acabado” das mãos de Deus.  Um ser destes não pode simplesmente ser feito -  se é para ser mais do que uma simples criatura-criada. Por esta razão, Deus respirou (insuflou) no ser humano algo de sua própria natureza divina. Para usar outra imagem, Deus ofereceu ao ser humano uma centelha de seu próprio divino, o fogo primordial, o qual através do sacrifício foi colocado como uma semente no ser humano.

Um longo processo de desenvolvimento é necessário para que esta semente possa um dia desenvolver-se em uma individualidade livre e à imagem de Deus.  A fim de carregar estas suas capacidades não-nascidas, o ser humano prossegue através da evolução histórica.  O fato dele encontrar a si mesmo dentro de um processo histórico não é simplesmente algo arbitrário ou externo à sua natureza. Pelo contrário, faz parte integral de seu desenvolvimento. Somente sofrendo através de seu destino e moldando-o com equidade o ser humano gradualmente evolui para aquele estado que é o estado intencionado para ele.  É um insight de fundamental importância que neste ser humano, a imagem de Deus não está ainda completa.  Este ser humano é quem “está a caminho”, se coloca a caminho.  E nisto este ser se distingue de todas as criaturas que são as suas companheiras na Terra.  Pedras, plantas, animais são trabalhos terminados.  A rosa por exemplo, é na verdade 100% rosa.  É a expressão perfeita de seu propósito e potencial. Pela mesma razão, no entanto, a rosa não tem história.  O mesmo é verdadeiro para o animal. Em contraste com outras criaturas na natureza, cada uma completa em sua própria maneira, o ser humano é perseguido pela dolorosa consciência da sua própria imperfeição.  Ele é altamente superior comparado às criaturas abaixo dele e mesmo assim,  com respeito ao seu próprio nível de perfeição, ele está terrivelmente atrás.  Como ser humano, ele não está tão perfeito quanto a rosa,  que é uma rosa.  Naturalmente, o ser humano sem dúvida é o coroamento da criação, no que concerne à sua forma em toda a sua extensão.  Através de uma longa história de desenvolvimento a forma do corpo humano atingiu um alto grau de perfeição. Mas a verdadeira natureza interior do ser humano está ainda em seu início. Daí ser tão difícil chegar a uma resposta clara para esta questão da verdadeira natureza do ser humano e o seu problema último  - o conflito de seu valor ou não-valor.  A palavra final ainda não foi dada. O processo do desenvolvimento humano ainda está se desenrolando. Compreendemos a nós mesmos com propriedade ao dizermos que ainda não somos “seres humanos” no verdadeiro sentido da palavra,  mas sim tendemos mais a ser algo para o qual uma nova palavra deva ser criada, nós  “demandamos” (reivindicamos), nós somos “aspirantes” (pretendentes) à palavra, “ser humano”.  O ser humano, à imagem de Deus,  é um objetivo distante.  O caminho que leva a este objetivo é a história.

A perda do Paraíso

Dentre as forças que trabalham no desenvolvimento histórico está também o Poder que se opõe ao plano divino.  O ser humano abriga dentro dele a possibilidade do mal, possibilidade esta que com frequência, sempre  encontra sua expressão no mundo.  É extremamente interessante notar que o ser humano sente o mal em si como algo fora dele, externo a ele, como se, em termos fundamentais fosse alienado à sua própria natureza, a despeito do fato que este mal pode exercer um enorme poder sobre o homem dado num momento determinado.  Quando permitimos que estas forças alienígenas do mal trabalhem dentro de nós, nós falamos que   “nos permitimos nos soltar, nos entregar” , na realidade nestes casos, não conhecemos a nós mesmos (mesmo quando usando a justificativa  “nós somos assim mesmo”).  Cada um de nós em sua natureza verdadeiramente gostaria de ser “bom” mesmo quando não queremos admiti-lo.

Este sentimento elementar que o mal é algo estrangeiro em mim, não fazendo parte de meu verdadeiro ser, confirma a visão da tradição bíblica na qual o mal não reside no homem desde o início mas entrou nele somente num específico momento do tempo.  Naquele dado momento entrou o mal no ser humano,  como uma influência estranha por assim dizer, como se pegássemos uma infecção na vida-da-alma.  A Bíblia descreve este evento como a “Queda”, usando as imagens da “serpente”, da “árvore” e da “maçã”.  Naturalmente estas palavras são imagens.  Imagens que se apresentam a si mesmas com um significado à percepção suprassensível.  O ser humano atual precisa traduzir as imagens para os conceitos modernos se quiser perceber /compreender o que nelas vive em termos de verdades superiores.

Como pôde um Deus amado e sábio permitir que o poder do mal se aproximasse daquele ser humano inocente e ainda infantil, como em verdade o fez, infectando a sua alma com egoísmo e consequentemente  abrir caminho para toda a futura miséria do ser humano?   Assim, nós podemos começar a entender o porquê disto, ao nos recordarmos (todos sabemos bem esta lição!) que uma pessoa jovem não é ajudada em seu desenvolvimento através de permanecer constantemente sob a proteção de seus pais.  Querendo que este jovem se torne algo na vida, ele precisa se libertar desta proteção.  Os pais devem superar seus medos em suas míopes visões e permitir que seus jovens pisem fora,  no mundo hostil e perigoso.  Os perigos apenas serão tomados como uma parte do acordo. Um insight como este que ganhamos através das experiências de vida, pode nos oferecer a janela através da qual nós entramos  totalmente dentro dos segredos da história do homem. Começamos a sentir a qualidade do risco e do quanto é audacioso e desafiador, o plano divino para a humanidade.

A proximidade de Deus junto ao homem criado não permitiria que a verdadeira independência surgisse.  No seu estado original, este Homem (homem/mulher) assim como as suas ações,  não seriam mais nada além do bom. Mas a inocência do homem paradisíaco não era o estado-último intencionado para a humanidade.  Após a Queda, no Futuro, nossa inocência irá ser readquirida no futuro como santidade.  O ser humano só se tornará plenamente humano quando ele livremente desenvolver o bem a partir de sua natureza mais íntima e profunda.  Somente então o bem será verdadeiramente um bem.  Entre a inocência do Jardim do Éden e a inocência da santidade,  no entanto, reside o trágico envolvimento do Homem (homem/mulher) com a culpa.

Com a Queda iniciou a crescente alienação do ser humano com a sua origem divina. Ele tornou-se mais e mais independente. Como resultado de sua progressiva separação, o ser humano encontrou-se num ambiente crescentemente solidificado, endurecido.  Quanto mais físico seu corpo foi se formando,  mais ele se fechou para o mundo divino.

Isto propiciou o crescente isolamento do ser humano, seu ambiente tornou-se,  a cada período histórico,  cada vez mais sólido e terrestre, ensejando sua chance em dar seus primeiros passos na direção de uma existência independente.  Neste caminho, a Queda do ser humano inaugurou um longo processo que mesmo ainda hoje não alcançou o seu fim.  Mesmo hoje, a alienação de sua origem divina exige que ele vá através de muitas e muitas transformações ainda e da mesma forma essa alienação se intromete mais e mais em muitas áreas de sua existência.

Os antigos sonhos do perdido Éden, calcados em uma era de ouro perdida,  eram visionários. Nós temos que evitar criar o erro de conceber um  “paraíso perdido” num sentido tosco materialista.  Fazer isso é entrar em desentendimentos com a linguagem imaginativa dos antigos textos sagrados. Na verdade, aí residia a condição original da infância do ser humano, na inocente proximidade de Deus que ecoa na memória de todos os povos antigos.

Essa nossa “origem na luz”  é a fonte da revelação primordial a qual gradualmente feneceu e tornou-se obscura.  Brilha e reluz na sabedoria de todos os povos e pode ser reconhecida através todas as suas posteriores elaborações e disfarces. Neste contexto os conhecidos “mistérios da antiguidade”  também se incluem.  Nestes mistérios uma pessoa escolhida era conduzida através de uma “iniciação” que permitia que esta fosse levada até um determinado nível, superando sua alienação do mundo divino.  Os mistérios, tão extensamente   quanto possível,  tentavam reverter o processo da Queda. As antigas religiões pré-cristãs se originam nos ecos desta revelação primordial.  Não apenas em Israel, mas também nas religiões pagãs, existia uma grandiosa e profunda sabedoria aonde a Queda  manifestava a si mesma.   Os “deuses” pagãos eram seres de altas hierarquias espirituais – anjos, arcanjos e outros seres suprassensíveis – os quais revelavam o mundo divino,  ao ser humano. Houve um tempo no qual  o ser humano mantinha contato com eles.

Gradualmente, no entanto, o ser humano perdeu a habilidade de perceber aqueles poderes altíssimos. O lugar dos “deuses” foi frequentemente tomado por demônios e fantasmas. E por este caminho os próprios mistérios em sua maioria entraram em decadência.

Um mundo sem deuses

Com a mesma intensidade que o ser humano vivenciava este crepúsculo dos deuses e esquecia seu lar suprassensorial, ele pôde se sentir em casa na Terra e fez dela, cada vez mais seu lar.   Desta forma ele adquiriu uma grande consciência e a capacidade de estar alerta, mesmo considerando que o seu desenvolvimento se fazia à custa do paraíso.

O mundo terrestre tornou-se bastante semelhante a um vácuo, um espaço vazio dentro da divina presença totalmente abrangente.  Num sentido bem estrito, a Terra não caiu fora desta presença inteiramente.  Mas precisamos formar uma imagem mais viva da onipresença de Deus um conceito que muitas vezes permanece abstrato e sem um significado claro. Temos que expandir o nosso entendimento para ver como a onipresença pode conter graduações para mais e também, para menos.   Por exemplo, Deus está presente no criminoso, sustentando a sua própria existência de ser humano, minuto a minuto, da mesma forma que Ele se informa do crime cometido.  Deus está “mais claramente presente” num ato de bondade, num sentido muito diverso e numa graduação bem mais alta.  Nossas preces para a vinda de seu reino entre nós e para que a sua vontade na terra seja feita,  seriam totalmente desprovidas de significado,  se não existissem variações nos graus de sua presença.   É neste sentido da “diluída” presença divina que a terra pode ser chamada de vácuo, um local sem deuses.  No que diz respeito à consciência do ser humano, a presença de Deus pode ser reduzida além de qualquer possibilidade de reconhecimento, diluída até o ponto onde ela não pode mais ser nem ao menos sentida.   É neste vácuo que o ser humano desenvolve mais e mais independência.

É exatamente por esta razão que tantos horrores e abominações acontecem na terra.  Esta é a razão de Deus “permitir” tudo isso.  Sem a séria possibilidade do erro não existe nenhuma liberdade - em toda a sua extensão e amplitude - sem liberdade e independência não pode existir o verdadeiro amor.   O fato de Deus permanecer silencioso,  permitindo que estas coisas aconteçam,  fundamenta-se no que mais verdadeiramente se opõe a qualquer indiferença e desinteresse.  Na verdade é o mais que trágico lado oposto do mais exaltado amor divino ao ser humano.  Esta necessidade inevitável não pode ser alterada, nem mesmo pelo próprio Deus. Sem nenhuma dúvida trata-se do amor pelo ser humano, no que um dia ele se tornará. É o amor de Deus à humanidade do amanhã e além do amanhã,  o amor que não pode nos livrar da necessidade de passarmos através do mal e da morte.  Deus renuncia a possibilidade de prevenir o mal, o que ele pode fazer através de sua onipresença.  Ele permite que o mal exista, e ele vem acudir o ser humano e apoiá-lo de uma forma diferente: através de enviar Cristo.

O Filho de Deus e o filho do homem

Porque o Salvador é chamado “Filho de Deus”?  Primeiro temos que compreender que os nossos conceitos do divino são de alguma forma inadequados. Então a palavra “Filho” é em si mesma uma metáfora a qual precisamos primeiro traduzir da  linguagem imaginativa para o nosso pensamento abstrato atual.

Deus é aquele que por um lado é totalmente autossuficiente, o ser perfeito – “como o seu Pai Celeste é perfeito”.  Todavia, não podemos simplesmente chegar à conclusão que devemos confinar Deus na prisão de nossas próprias formas inadequadas de pensar.  Não devemos correr com a nossa inteligência lógica e concluir que o fato de ser Deus completo, isto exclui a possibilidade de Deus “tornar-se”.  Independente dos conceitos filosóficos e teológicos, Deus não é simplesmente um prisioneiro de sua própria totalidade, totalidade esta que  concebemos como “circunscrevente” envolvendo-o.

A natureza de Deus consiste não apenas em “eterno repouso”  mas é também “verdejante” e “em expansão, evolução, desenvolvimento”.  Deus na totalidade de seu eterno ser  é o “Pai”.   Podemos ainda falar de outro aspecto de Deus que é igualmente justificado e real:  Deus está em processo de tornar-se, de evoluir para o futuro: o “Filho”. Devido a essa qualidade de “evolução, desenvolvimento”, o Filho é aquele que carrega em si as forças criativas.  Como é expresso no Evangelho de João (1:3) e nas Epístolas de Paulo, o Filho é o mediador da criação do mundo.   É esse Deus que uniu a si mesmo com a Humanidade: o Deus em cuja própria natureza,  jorra como uma planta,  libertando a si mesma da matéria inerte e se desenvolvendo através dos estágios de crescimento (evolução) – o Deus com um futuro...

O mistério do Deus sem poder

Como é esta intervenção da providência em benefício do ser humano - do Divino Filho no mundo terrestre - compatível com a noção acima de que,  num certo sentido,  o mundo do homem tem estado vazio e que este vácuo favorece o desenvolvimento da independência do homem?

Está a liberdade germinante do homem invadida pela intervenção divina?

Responder esta séria questão com propriedade exige que observemos a forma única,  na qual a entrada de Deus no mundo do ser humano teve lugar. O Deus que apareceu na Terra, não revelou a Si mesmo na plenitude de seu poder. Pelo contrário, o sacrifício divino inerente ao fenômeno é de um Deus que permite eventos no sentido de que estes tomem o seu curso, culminando na cruz do Gólgota.  Esta imagem é tão familiar a nós que com muita dificuldade conseguimos compreender como isso pôde tumultuar tantos  sentimentos,  mesmo entre aqueles mais piedosos seres, em sua aparição ofensiva e enigmática: “para os Judeus uma pedra no caminho, para os gregos uma loucura, uma insensatez”.  O Deus crucificado – ora, um Deus assim é um Deus sem poder.

Vamos enfatizar novamente o ponto: a mesma impotência de Deus é vista no seu silencioso semblante em todas as abominações da Terra, somente que aqui isto é levado ao extremo.  Crucial, no entanto,  é reconhecermos nesta impotência o que aí verdadeiramente se mostra: não a fraqueza de Deus, mas sua autolimitação; um impedimento consciente, uma renúncia no benefício da liberdade do ser humano.

Extraído parcialmente da “Essência do Cristianismo” de Rudolf Frieling. Floris Books ISBN 086315039X




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