Paraíso ou Cidade Sagrada por Sonia von Homrich
Chamo a atenção dos amigos a um trecho do discurso do
Embaixador Nestor Forster Jr., na cerimônia de outorga da Grã-Cruz da Ordem do
Rio Branco ao filósofo Olavo de Carvalho no dia 29 de Agosto p.p.
“Finalmente, dentre as
inúmeras contribuições originais de Olavo de Carvalho à Filosofia Política e à
Ciência Política, a definição científica do fenômeno da mentalidade
revolucionária está certamente entre as de maior alcance. Objeto de aulas,
artigos e palestras, a teoria formulada pelo Professor mostra que, desde suas
origens mais remotas, nos movimentos messiânicos e apocalípticos dos séculos
XIV e XV, todas as revoluções subseqüentes, da francesa à soviética, chinesa,
cubana, etc. possuem uma característica comum: todas essas revoluções
projetos de reforma integral da sociedade, do mundo, da natureza, mediante uma
inédita concentração de poder nas mãos da elite revolucionária, detentora
exclusiva do conhecimento redentor, da mesma forma que os líderes gnósticos do
passado se julgavam portadores das chaves para o paraíso, não mais no fim dos
tempos, mas dentro do tempo histórico. E essa concentração de poder decorrente
do alegado conhecimento de um suposto “mundo melhor” opera com base na inversão
do sentido do tempo. O comum dos mortais vive em um presente em fluxo
permanente, desde um passado que não pode ser mudado, e por isso pode ser
conhecido, em direção a um futuro desconhecido, mas moldável de acordo com os
desejos humanos. Para a mente revolucionária, como a descreveu o Professor,
opera-se uma inversão fundamental desse sentido habitual do tempo que temos
todos. É em nome de um futuro conhecido e anunciado pela elite revolucionária
que ela concentra o poder no presente e reescreve o passado, que já não é mais
imutável, mas é refeito constantemente em função do projeto futuro.”
Essas questões de presente, passado e futuro são bem
importantes realmente, embora os
marxistas (sejam social-democratas, sejam socialistas de qualquer tendência) queiram
mudar o passado, os fatos, os acontecimentos não se alteram. O passado é
imutável, não importa quantas distorções sejam criadas – em termos de
Noûs-Counselling, não atuamos para mudar o passado, mas sim mudar o presente. É
no presente que somos criativos e conseguimos afinar nossas percepções, ascendendo-as
para desenvolver uma consciência intuitiva a nível de Devachan, simplificando
um assunto que exige maiores explicações.
Isso é feito tendo em vista o futuro que almejamos – as mudanças
que almejamos no futuro são trabalhadas no presente de forma consciente. Isso
também não é algo que se possa afirmar em poucas palavras, mesmo porque temos
milhares de situações que mostram que não se planeja o futuro já que muito do
que acontece no futuro não estava planejado em muitos casos é “serendipity” –
então temos aqui diferentes níveis de compreensão e entendimento a serem
desvendados.
Mas o que é mutável mesmo é o presente momento. Nele podemos
atuar de forma co-criativa com o Divino, o Cosmos-Espiritual, ou não, depende
de nosso livre-arbítrio.
O que vemos hoje nas decisões tomadas pelo STF? Por leis
aprovadas pelo Congresso? A usurpação do entendimento de passado, presente e
futuro. Então uso o discurso do Embaixador Forster Jr. para enfatizar a que me
refiro “Para a mente revolucionária, como
a descreveu o Professor (Olavo de Carvalho), opera-se uma inversão fundamental deste sentido habitual do tempo que temos
todos. É em nome de um futuro conhecido e anunciado pela elite revolucionária
que ela concentra o poder no presente e reescreve o passado, que já não é mais
imutável, mas é refeito constantemente em função do projeto futuro.”
E aqui incluo uma imagem elucidativa. Muitos imaginam
encontrar o Paraíso na Terra e querem criá-lo. Pessoas que se encontram sob a
influência de forças poderosíssimas mas totalmente materialistas (Ahriman, Mefistófeles
do Fausto de Goethe). Outros imaginam que só encontram o Paraíso fora da Terra
e desprezam (Lúcifer) a Terra, entrando
numa falsa espiritualidade, desprezam quem consideram imperfeitos (excluem-se
da evolução) já que não se permitem considerar que é na Terra que usamos nossa
espiritualidade e materialidade, em nosso corpo físico, no momento presente
onde somos ou queremos, ou ainda almejamos ser co-criativos para o bem último
da humanidade, para o cultivo do amor universal (Cristo), o que jamais é uma
metáfora.
Obviamente assuntos que exigem um aprofundamento demorado, o
que não cabe neste artigo.
Então embora a procura do Paraíso ainda esteja viva na
imaginação das pessoas, o Paraíso não mais é a meta do ser humano, mas sim
Philadelphia. A construção da Cidade Sagrada que fazemos com um enorme esforço
pessoal em nossas ações na Terra, ações estas que queremos sejam verdadeiras e com
moralidade. Afinal a Terra tem que ser transformada em uma obra de Arte pelas
mãos, pelas ações do ser humano (e não sem o ser humano).
Porque nosso ideal é a liberdade e não o controle obsessivo
de todas as variáveis. Queremos uma liberdade que se equilibre com a
responsabilidade quer como indivíduos, quer como cidadãos da Terra, sem que
alguma destas variáveis se exceda. Uma equilibra a outra.
Nossa soberania é essencial, tanto a nível de
individualidade como quando cidadãos – a soberania de nossa pátria, onde ser
nacionalista é ser patriótico numa nova conceituação de 2019, contrapondo-se ao
marxismo em todas as suas formas (Gramsci, Ecologia, Escola de Frankfurt, etc.)
Com nosso esforço pessoal construímos, edificamos numa
escultura social, espiritual, cultural a Cidade Sagrada onde não mais seremos
colocados longe dos deuses, mas com eles iremos conviver.
Então almejar o Paraíso é almejar a volta, o retorno ao
passado que não construímos nós com nosso constante esforço enquanto vivemos na
Terra, é não almejar o futuro e o futuro não é o Paraíso.
Bem, por hoje é só.