O
Quadro “Tryptychon Graal” Anna May, Munique .
“De
Salomão, passando pelo Gólgota até Christian Rosenkreutz”
Anna May, em “Margarethe Hauschka – uma imagem de vida”
ISBN 3933002036
Tradução e Adaptação, Comentários de Sonia von Homrich BR
Tryptychon Graal, trad. Sonia Homrich. As três partes do Tryptychon Graal. Descrição de Anna May em grandes esboços por ocasião
da exposição em Munique no Palácio de Vidro [Glaspaläst]. Arquivo para o caso
de venda ou informações.
O Tryptychon Graal de Anna
May impressionou-me de uma maneira profunda e inexorável no momento em que eu
descobri este quadro em 11 de Junho de 2003 em Boll, Göppingen, Alemanha.
Muitas de minhas visões anteriores uniram-se de forma integrada ao examinar o
quadro em seus detalhes. Minha impressão profunda foi dividida com Frau Hella
Wiesberger e compreendida mutuamente de muitas formas. Felizmente temos hoje
cópias deste enorme quadro que foi totalmente destruído no bombardeio americano
que arrasou a Alemanha, destruindo o quadro original que, depois de exposto em Munique (Münich) estava
em uma das paredes de uma escola Waldorf em Hamburg. Através de minha prática e
no esotérico por anos desenvolvendo a Consultoria & Aconselhamento em todos
os seus valores, na responsabilidade e liberdade (e no amor), estava desenvolvendo a minhas idéias, minha
intuição em muitos aspectos, o que me levou a encontrar o quadro como a imagem
do meu trabalho em suas transformações e insights. Sonia Homrich. 2005 Páscoa.
O Quadro
A visão da história da humanidade é centrada no
Mistério do Golgotha. Graal é a palavra para os seres humanos quando procurando
a sua conexão individual com o acontecimento do Golgotha. A lenda diz que o
Graal foi esculpido na pedra da coroa de Lúcifer, o qual a perdeu, em sua queda ao lutar contra o Arcanjo Michael.
Salomão recebe a pedra através da Rainha de Sabá [à esquerda no Tryptychon]. O
Graal torna-se o cálice da Última Ceia no qual a lenda diz que José de Arimatéia
recebeu o sangue sagrado [centro do Tryptychon].
No futuro, quando o sangue crístico penetrar até as
mais interiores profundezas da Terra, o ser humano também impregnado por este
sangue de Cristo – o Parcival do futuro – como que ressurgindo de um túmulo, acordará no cálice do Graal, reunindo todas as
religiões e todas as antigas filosofias num conhecimento crístico-vivo. Michael
então terá dominado o Dragão e a “Mulher” do Apocalipse carregará novamente o
Sol em si e a Lua sob seus pés, o que significa dizer: a Terra terá conseguido
sua vitória sobre a materialidade.
A parte superior do Tryptychon Graal representa o
mundo espiritual [ouro]. As cabeças superiores maiores são dos “Espíritos do
Tempo [Arqueus]”, os quais dão-se as mãos através de extensas épocas,
liberando-se. Estes “Espíritos do Tempo” são apoiados pelos “Espíritos dos
Povos [Arcanjos]”. Abaixo dos “Espíritos dos Povos”, olhando para os seres
humanos, os Anjos. As duas colunas representam o fluxo do sangue que corre
através da humanidade fazendo a conexão com o espiritual [ouro] encarnado. Os
seres superiores que dirigem a evolução da humanidade, à esquerda de cima para
baixo : “Melkisedec[Melquisedec]”, o grande iniciado solar que traz pão e vinho
à Abraão, abaixo deste “Abraão e Isaac”, abaixo “Jacó” e a escada celeste. Abaixo,
à esquerda da cruz, “Moisés” posicionado como se estivesse vendo a sarça
ardente. Estas individualidades são colocadas como pedras marcantes para o
preparo do sangue hebraico na formação do corpo do Cristo.
Meio superior acima do Golgotha: a pedra do Graal que
na luta dos céus cai da coroa de Lúcifer.
Tryptychon à esquerda: a rainha de Sabá entrega a
pedra para o rei Salomão, juntamente com outras preciosidades. Cristo, mais
tarde na Última Ceia o faz no Cálice do Graal. José de Arimatéia coleta o
sangue sagrado que permeia a terra no Golgotha, no Cálice : as três mães, as
três forças terrestres: pensar, sentir,
querer, recebem o sangue sagrado. Cristo, o grande espírito solar, e os
Seres Espirituais descem à Terra. Seres espirituais que trabalham o pensar, o
sentir e o querer, para que o sangue penetre fundo na Terra e a transubstancie,
trans- cristifique, transformando-a.
Tryptychon à direita: mostra o cristianismo esotérico
renovado (revitalizado) que brota do Cálice do Graal e o túmulo cristalino,
introduzido por Christian Rosenkreutz. Ao centro, os sete “Rishis” sagrados são
envolvidos e representam os antiqüíssimos mistérios planetários atlânticos.
À direita e à esquerda unidos, os representantes das
cinco épocas do desenvolvimento terrestre, épocas culturais pós-atlânticas: a
Antiga Índia (índica), a Antiga Pérsia (Pérsica-Zarathustra), a Caldéia-egípcia
(Hermes), a Greco-Latina (Sócrates, Platão, Agostinho) e a representante de
nossa era Joana D’Arc.
Acima à esquerda da parte central: a grande
individualidade antes do acontecimento crístico, Buda. Abaixo na coluna de
sangue, um iniciado antes de Cristo representado de olhos fechados, pois
ainda não é o iniciado em estado consciente [sem
intuição-consciente].
Acima à direita da parte central: após o acontecimento
crístico João Evangelista com o globo terrestre. Isto significa: Cristo na cruz
recomenda João à sua mãe, a Terra. Abaixo um iniciado no sentido crístico de
olhos abertos, consciente [com intuição-
consciente].
Ao lado da parte central à direita em oposição à
Moisés [não Eu mas Cristo em mim] : “Ejeh
asher Ejeh/ Eu sou o Eu-sou”.
No fluxo de sangue inferior, o Animal
acorrentado pelo Arcanjo Michael, acima a Mulher do Apocalipse carrega o
Sol em si e tem a Lua a seus pés,
significando que no final da evolução terrestre as forças solares se
reúnem com as forças terrestres, quando a Terra encontrar-se-á totalmente
permeada por Cristo.
A moldura para o quadro foi definida por Rudolf
Steiner: “Uma larga moldura de madeira em forma de nicho ou charola. Em baixo
um tipo de saliência, como um amplo altar. Tudo brilhante porém cauterizado em azul-índigo. Na
parte arredondada superior o Zodíaco, as constelações levemente enraizadas com
as figuras em imagens como uma névoa dourada onde brilham as estrelas”.
O Tryptychon Graal foi comprovadamente exposto no ano
de 1918 no “Kunsthaus [Galeria de Arte] Reich”. Mais tarde no Glaspaläst
[Palácio de Vidro] em München [Munique, Alemanha].
Em Julho de 1946,
Ana May enviou uma aquarela do Monte das Oliveiras como presente de
Natal a Marie Steiner. Anna May sustentou-se pintando em Jerusalém. Marie Steiner
enviou uma resposta a Anna May [a carta encontra-se nos arquivos] na qual
descreve a época futura para a compreensão do significado do Tryptychon,
fazendo uma observação quanto ao Graal. Rudolf Steiner tinha indicado mais a configuração
das faces do que a concepção artística.
Depois que eu (Margareth Hauschka) vivenciei longo
tempo este quadro, compreendi porque
Steiner tinha feito a indicação para a moldura “repousando sobre um pedestal
como um tipo de altar e o zodíaco sideral emoldurando o quadro por cima em ouro
sobre índigo”.
Índigo é a cor que vivenciamos conscientemente a
partir do séc.15. A cor índigo pertence
ao desenvolvimento da Alma da Consciência [Consciência-Espiritual], sendo esta
a cor que mais se aproxima da escuridão. A cor cinza é aquela da qual o
espírito renasce. Só quando no olhar morre totalmente para a vida própria, pode
então o Homem passar à percepção pura, só então, o índigo se torna vivência. Aqui posso apenas
tocar de leve o segredo do índigo, mas
ainda há muito mais a dizer. Por isto cada cor representa um degrau a mais em
nosso desenvolvimento anímico [espiritual] como cedo descreve Albert Steffen
em seus artigos. Antes do Mistério do Golgotha, a humanidade adquire o azul, a
cor do anímico que faz os processos vitais recuarem totalmente para que
encontremos o anímico-espiritual diretamente no olhar humano.
O conteúdo do quadro com a moldura em índigo é um
resumo do mistério solar do desenvolvimento humano e terrestre de Melkisedec, o sacerdote e líder dos antigos mistérios
solares, que traz pão e vinho à Abraão. Inicia-se em Abraão até o
Mistério do Golgotha a presença de duas correntes humanas representadas
por Caim e Abel que no quadro aparecem como Hiram e Salomão
reunindo suas forças para construir o templo naquele corpo que assume o pleno “Eu
da Humanidade”. A pedra da coroa de luz de Lúcifer, a imagem do “Eu da Terra”
dos seres humanos, trazida pela Rainha de Sabá como representante do mundo
estelar, une-se mais fortemente naquela época, cerca de 1000 A .C., com o corpo
físico. Este próprio Eu-da-Terra deve
se tornar um cálice para o Eu-Superior/
Self Espiritual, quando o Mistério do Graal for compreendido em toda a sua
profundidade. Então no futuro [próximo], também o físico poderá ser purificado até a
transparência, como foi o caso de Christian
Rosenkreutz. O que apenas o olhar-solar pode alcançar, purificando a
substância até o cristal transparente claro, o mais alto grau das substâncias
para os alquimistas, esta purificação aqui no Eu-da-Terra, tornando-se
unido a Cristo, fazendo-se apto a alcançar os primórdios do fim do
desenvolvimento terrestre, criando: Atma
[Atman]. “Manas= Spirit-Self, Eu ou Self-Espiritual. Buddhi= Life-Spirit, Espírito-Vida. Atman,
Spirit Man/Woman, Homem/Mulher-Espírital (Menschengeist) = Eu-Espiritual-Humano
= Individualidade Criativa.
No quadro bem à direita, a Mulher vestida com o Sol, o novo ser
humano-solar.
Também pode-se dizer deste quadro que resplandece o
sentido do desenvolvimento terrestre ao fazermos o olhar caminhar da esquerda
para o centro e depois para a direita. O olhar vê no centro o sangue fluir
profundamente na corrente da terra. Os mistérios pós-cristãos, iniciando-se na
Última Ceia são segredos do sangue.
Assim também o são os Mistérios do Graal.
José de Arimatéia recolhe o sangue, fazendo-o por e para toda a humanidade. O
que é recolhido pelas Nornen [deusas germânicas que decidem o destino
dos Homens, da mitologia nórdica e germânica], redime a Terra. Assim a força
crística entra no destino, no qual Cristo é e será o Senhor. Desta forma
colocamo-nos diante do quadro e aos poucos começamos a lê-lo. Não é um quadro
simbólico, mas sim um quadro histórico-espiritual, naturalmente na roupagem do
início do séc. 20.
A.Fels era professor de Anna May. Rudolf Steiner o
considera o precursor da nova arte [segundo seu biógrafo], transformando-se em contempladora de Deus.
Talvez a dignidade do quadro no qual conscientemente
desiste-se de interpretá-lo em todos os seus detalhes, contribua melhor para que seja este trazido
muito próximo ao coração dos contemporâneos. A antroposofia [ciência goetheanística-steineriana]
é a Ciência do Graal. A Antroposofia transformada
em sentimentos produzirá nas almas de artistas [em almas criativas, arte de
forma expandida] sempre e novamente o anseio de representar o artístico que
vive na alma, do qual o Tryptychon dá um
dos primeiros e flamejantes testemunhos, mesmo que ainda balbuciante.
[Dr. Margareth Hauschka-Stavenhagen, fundadora da Escola de terapia Artística (em Boll, Alemanha/Schule für
Künstlerische Therapie, Boll, DE.) Bad Kreuth, no Tegernsee [Lago Tegern] é uma
região de balneários em torno do Lago,
na Bavária, Alemanha. Localiza-se a 50 km . de Munchen entre o Tirol e a Áustria.]
Retornando de apresentações como dramas de Schiller,
Shakespeare – Otelo ou mesmo de Óperas, Anna May imediatamente dirigia-se a seu
quarto para fixar através da pintura ou desenhos, as cenas e cenários do palco. Histórias e
romances que a impressionavam eram reproduzidos também através da pintura. Anna May introduziu a Antroposofia na família
bem cedo.
Margareth Hauschka-Stavenhagen relata [publicado na
revista Das Goetheanum, em 15 de Junho de 1975] :
“Na herança/
espólio de minha mãe, encontrei uma antiga transparência colorida do
início do século. Representa o Tryptychon Graal, o grande quadro da pintora
Anna May, pintado na época das peças de Mistérios, em Munique/ München . Este quadro, em sua origem, destinava-se para a construção “Der Johannesbau
em München (1908)” [ foi o primeiro projeto do Goetheanum que depois se
concretizou totalmente no Goetheanum na Suíça]. http://www.anthroposophie-muenchen.de/103.html
Por diversas circunstâncias do destino o quadro ficou
exposto na Escola Waldorf de Hamburg, muitos anos antes da II Grande Guerra e, foi destruído pelos intensos bombardeios do
final da Guerra. Ciente que esta era com
toda a probabilidade a única reprodução colorida existente, eu [Margareth
Hauschka] senti a responsabilidade de arrancar o quadro de seu esquecimento.
Rudolf Steiner tinha pessoalmente dado importantes indicações com relação ao
quadro, tornando-o novamente acessível a todos, através de reproduções. Este quadro ocupava
uma parede inteira, medindo aproximadamente de 2.5-3 m . de altura por 6m. de
comprimento. Quando exposto no Palácio de Vidro/ Glaspaläst em München, à
pedido do expositor, Anna May redigiu a descrição do quadro : de Salomão, passando
pelo Gólgota até Christian Rosenkreutz. [Construção semelhante ao Crystal
Palace de Londres, onde artistas internacionais expunham suas obras e também
mostrava a pujança da indústria alemã à época].
Com este quadro ressurgem todas as lembranças que me
ligaram à criadora do quadro desde a mais tenra juventude. Anna May era a irmã
mais velha de minha mãe. Era por nós a mais amada e respeitada parente, e entre
nós crianças, era conhecida apenas pelo nome tia Artemis. Seu nome originava-se
no fato de meu avô referir-se à “die Anna” o que para nós soava Diana, de qualquer modo
nos parecia ser um nome muito belo para ela.
Quando nos dirigíamos para o Sul [morávamos em
Hamburg] para a casa dos pais de minha mãe em Munique/ München ou mais
ao sul em Bad Kreuth ,
à casa de meu avô, em silêncio desejávamos que a tia Artemis lá
também estivesse; o sótão era o seu ateliê de verão e pertencia-lhe. Assisti-la
pintar, talvez até ser sua modelo, para nós era o mais alto deleite. Espantada
fiquei quando posteriormente encontrei meu irmão que era bem mundano, retratado em postura devota quase como um
arcanjo. A atmosfera do ambiente onde Anna May surgia tornava-se essencial –
havia sempre em volta dela um certo “ar de catedral”, o qual não foi
maculado por nós, nem posteriormente... Seu ateliê era na Adalbertstrasse, seu
real local de criação nos difíceis tempos de final da I Guerra em 1918,
significou um refúgio também para mim, posteriormente. Ali ficava o Tryptychon
Graal sobre um enorme cavalete, provavelmente o primeiro grande esboço
sobre o qual ela referiu-se por carta,
mais tarde, à meu irmão : sinto
imenso, pelo primeiro maior esboço a
partir do qual pintei meu grande quadro. O esboço era bem melhor que o grande
quadro...
A figura da Rainha de Sabá com o cálice e um vaso de
gramíneas de um lado [esquerda] e a Virgem
de Órleans/ Joana D’Arc, como
representante de nossa época cultural do outro lado[direita], estavam sempre em
minha alma, como perguntas colocadas a
um enigma.
Depois que Anna May emigrou para Jerusalém, o que foi inesperado para todos, eu não mais a
vi e nem ao quadro. Hoje sei que [Rudolf] Steiner estava orientando a decisão, em termos primordiais. Externamente era apenas
um trabalho na Editora de Arte Cristã, solicitando
uma série de aquarelas das cidades santas da Palestina. Desde então estou juntando
o que se pôde encontrar de testemunhos sobre sua vida e o Tryptychon Graal. É muito pouco e pode ser guardado em um
porta-moedas! Mesmo assim esta individualidade merece por muitas razões ser
elevada à consciência de nosso movimento [antroposófico]. Eu mesma nunca tive
aulas de pintura com ela, mesmo assim ela foi a minha professora e está por
trás de tudo que tenho representado na área da pintura dentro do movimento
médico antroposófico. Logicamente sua capacidade para a pintura mergulhava no
estilo de sua época, mesmo assim ela é predecessora da arte goetheanística.
Anna May colocou toda a sua capacidade neste Tryptychon, que ela mesma
considerou como o ponto culminante de seu criar.”