Bio1 SvonHomrich
25 setembro 2025
Bio 1 SvonHomrich
A Imortalidade do Ser Humano. SvH.Rudolf Steiner
A Imortalidade o Ser Humano.
Tradução: Sonia von Homrich
Fonte: Rudolf Steiner Relações Cármicas III, VII. GA 237 (Conteúdo abaixo)
Na época da Atlântida, quando a Inteligência Cósmica, enquanto permanecendo cósmica, tomou posse dos corações dos homens, tal evento ocorreu; e agora, para o atual reino terrestre, isto mais uma vez irrompeu em relâmpagos e trovões espirituais.
Sim, de fato foi assim. Na era em que os homens estavam conscientes apenas das convulsões históricas terrenas, quando os Rosa-cruzes estavam em movimento, quando todos os tipos de eventos notáveis estavam acontecendo, sobre os quais você pode ler na história externa, naquela Era (Idade) a Terra parecia, aos espíritos nos mundos suprassensíveis, cercada por poderosos relâmpagos e trovões.
Os Serafins, Querubins e Tronos estavam transportando a INTELIGÊNCIA CÓSMICA para aquele membro da organização humana que chamamos de sistema neurossensorial, a organização da cabeça.
Mais uma vez, um grande evento ocorreu; este ainda não se mostra distintamente como realmente, só o fará no decorrer de centenas ou milhares de anos; mas significa, meus caros amigos, que o homem está sendo totalmente transformado.
ANTERIORMENTE, ele era um homem-coração; então, tornou-se um
homem-cabeça.
A Inteligência torna-se sua.
Visto do suprassensível, tudo isso é de imenso significado.
Todo poder e força
que residem no domínio da PRIMEIRA Hierarquia, no domínio dos Serafins e
Querubins, que revelam sua força e poder pelo fato de não apenas administrarem
o Espiritual dentro do Espiritual, como os Dynamis, Exusiai e Kyriotetes, mas
também transportarem o ESPIRITUAL para o FÍSICO, tornando isto em CRIADOR do
Físico — todo este seu poder, os Serafins, Querubins e Tronos agora tiveram que
aplicar para realizar uma ação tal como ocorre, como eu disse, somente após
muitos éons (aeons).
E pode-se dizer: O que MICHAEL (Arcanjo e agora Archai) ensinou aos seus durante aquele tempo foi anunciado nos mundos terrestres abaixo com TROVÕES e RELÂMPAGOS.
Isto deve ser compreendido, meus caros amigos, pois estes
TROVÕES e RELÂMPAGOS devem tornar-se entusiasmo nos corações e mentes dos
ANTROPOSOFISTAS.
E aquele que realmente tem o impulso para a Antroposofia —
embora ainda inconscientemente, pois os homens ainda não o sabem, mas
aprenderão com o bom tempo — quem quer que seja que tenha esse impulso dentro
de si, ainda carrega em sua alma os ecos, os pós-ecos do fato que no CÍRCULO DE
MICHAEL ele recebeu de lá a Antroposofia celestial.
Pois a Antroposofia celestial precedeu a terrena.
Os ensinamentos dados naquela época existiam para preparar o
que agora se torna em Antroposofia na Terra.
Então, temos uma dupla preparação suprassensível para o que
se tornará a Antroposofia na Terra.
Temos a preparação na grande Escola suprassensível a partir
do século XV em diante, e então temos o que descrevi como um culto imaginativo
ou ritual (Cultus) que tomou forma na
suprassensível no final do século XVIII e início do século XIX, quando tudo o
que os alunos de Michael aprenderam na Escola suprassensível anteriormente foi
transformado em poderosas imagens e imaginações.
Assim eram as almas preparadas, aquelas que posteriormente desceram ao mundo físico, sendo destinadas, por meio de todas estas preparações, a sentir o impulso interior de buscar o que funcionaria como Antroposofia na Terra.
FONTE: Rudolf Steiner. GA 237. Karmic Relationships III. Relações Cármicas III, VII. The New Michael Age. Nova Era de Michael. 28 Julho 1924. Dornach.
https://rsarchive.org/Lectures/GA237/English/RSP1977/19240728p01.html
Conteúdo das Conferências de Relações Cármicas III GA 237 de
Rudolf Steiner
I. Introdução a estes Estudos sobre o Carma 1º de julho de 1924. Intelectualismo e o estado de espírito que o precedeu: os
homens receberam em si mesmos os pensamentos do éter cósmico. Até o início dos
primórdios da Idade Média, essa antiga concepção persistiu em personalidades
influenciadas, de um lado, pelo Arabismo e, de outro, pelo Aristotelismo. Para
a civilização da Europa, foi necessário um impulso especial em direção ao
desenvolvimento da Alma-Espiritual. Duas correntes espirituais em conflito: os
quase árabes filósofos e os Escolásticos Dominicanos que, como representantes
do individualismo, lutaram contra eles. Intensos conflitos internos na época
desta luta para tornar possível o desenvolvimento da Alma-Espiritual e para
sustentar a realidade do Pensamento individual.
II. Forças da Preparação Cármica no Cosmos 04 de julho de 1924. Forças da preparação cármica no cosmos. As encarnações anteriores do homem atuam em suas encarnações posteriores como um instinto espiritual dentro do EU(*); após a morte, ele se torna objetivamente consciente das experiências ocorridas na Terra. A teia de relacionamentos cármicos. A transmutação das ações terrenas dos homens em ações celestiais das almas. Quando dois seres humanos trabalham juntos, algo acontece entre os dois, transcendendo as experiências individuais de cada um. A conexão entre o que acontece no mundo humano na Terra e o que acontece nos mundos espirituais acima é, nada mais do que estabelecida para a consciência comum quando ações espirituais sagradas são trazidas ao mundo físico dos sentidos. Os atos celestiais e as consequências de certos acontecimentos caem como chuva fina nas imagens-espelho do pensar na terra. Mas as sombras, os verdadeiros fantasmas do século XIX, circulam entre os homens atualmente, atraídos pela tendência Ahrimanica da Era(Idade).
III. Os Fundamentos Espirituais dos Esforços Antroposóficos 06 de julho de 1924. A conexão entre a vida humana na Terra e aquilo que acontece no cosmos. Seja o que for que aconteça aqui na Terra tem sua parte correspondente nos mundos espirituais. Isto se expressa na escrita das estrelas. Quais são as realidades cósmico-espirituais e subjacentes a uma comunidade como a Sociedade Antroposófica? Por qual predisposição uma alma é levada à Antroposofia? — Um anseio por Cristo acompanha muitas almas desde sua vida pré-terrena até sua vida presente na Terra: elas lutam novamente para conhecer Cristo como o Ser do Sol. A experiência cristã se mistura com as concepções do antigo paganismo. Em muitas almas influências se fazem presentes as quais tornam possível para os homens cair vitimados às tentações de Lúcifer e Ahriman.
IV. A Condição da Alma daqueles que buscam a Antroposofia 08 de julho de 1924. Deve-se distinguir dois grupos no Movimento Antroposófico: um com a necessidade a mais interior necessidade do coração de colocar Cristo no ponto central, o outro encontrando grande satisfação em conhecê-Lo sob o aspecto da cosmologia e da história terrena e humana. As origens desse agrupamento remontam aos tempos dos Oráculos da Atlântida. Para as almas que chegam à Antroposofia hoje, é particularmente importante aquela encarnação que ocorreu nos primeiros séculos após Cristo. Algumas almas humanas tiveram muitas, outras relativamente poucas encarnações passadas na Terra. As almas de um grupo, consideradas como um todo, receberam o cristianismo naqueles primeiros séculos principalmente por meio do intelecto; outras receberam os impulsos eminentemente em sua vontade (**). Experiências na vida entre a morte e um novo nascimento das poderosas e superiores Imaginações encenadas como uma ação espiritual suprassensível na primeira metade do século 19.
V. Condições Espirituais da Evolução que lideraram ao Movimento Antroposófico 11 de julho de 1924. O elemento comum na condição anímica dos dois grupos nos primeiros séculos cristãos era uma sensação, leve e delicada, no entanto presente, entre o adormecer e o despertar, do trabalho Espiritual e o tecer na Natureza externa, e do influxo da espiritualidade nos espaços iluminados do cosmos. Percepção da inocência do ser da Natureza. Então, os homens começaram a ponderar sobre a profundidade das forças que trazem o bem e o mal na alma humana. Esse estado de espírito surgiu especialmente entre aqueles que receberam conhecimentos e ensinamentos do Oriente. (‘Búlgaros’ — seres humanos que foram mais fortemente tocados por essa oposição dos poderes espirituais do bem e do mal. Hereges). Então, chegou o tempo quando a visão da glória brilhante do arco-íris sobre as plantas, da natureza do desejo sobre os animais, desapareceu; entre o adormecer e o despertar, a linguagem sussurrada dos mundos espirituais cresce enfraquecendo, mas o Espiritual ainda podia ser falado como algo conhecido pelos homens; no tempo seguinte, o sentimento das almas na sua vida após a morte era que na Terra o crepúsculo noturno do Logos havia se estabelecido. Com isso conecta-se o surgimento do Catecismo; a Missa, o Culto em sua totalidade torna-se exotérica em vez de ser dividido, como anteriormente, em uma porção exotérica e outra esotérica. O sentimento fundamental das almas no mundo espiritual entre o século 7 e o século 20 era: Cristo não é mais reconhecido em Sua verdadeira natureza; a cerimônia sagrada não é mais compreendida. Esse sentimento intensificou seu senso da necessidade para uma nova experiência de Cristo na Terra.
VI. A Escola de Chartres 13 de julho de 1924. Lugares superiores de conhecimento, relíquias dos Antigos Mistérios, estavam presentes até o século 7 ou 8I A.D. Nesses centros, os homens não falavam sobre leis abstratas da Natureza, mas do poder criativo da Deusa Natura. Então, a delicada, porém viva conexão com o mundo espiritual desapareceu, mas os antigos ensinamentos ainda eram cultivados em certos centros, cujos impulsos só cessaram no século 12 ou 13. O conhecimento concernente aos quatro Elementos, o Sistema Planetário, o "Oceano Cósmico", os segredos do "Eu", foram cultivados até a virada do século 14-15. A Escola de Chartres e seus professores. Pelo final do século 12, tais ensinamentos ainda eram cultivados na Universidade de Orleans. Platonistas e Aristotélicos. Brunetto Latini. No início do século 13I, ocorre uma supremamente importante "troca de ideias" no mundo espiritual, com o objetivo de trazer uma nova espiritualidade para a Terra. A maravilhosa cooperação entre as almas que trabalhando a partir do superior e aquelas que estavam abaixo na terra foi o resultado. Nesta atmosfera espiritual o verdadeiro Rosacrucianismo pôde infundir sua influência.
VII. A Nova Era de MICHAEL 28 de julho de 1924. A manipulação do intelecto pelo homem individual e pessoal o conduz à liberdade da vontade (pensar-sentir-querer), à livre-escolha, ao livre-arbítrio. Nos primeiros séculos cristãos, até o século 8-9, a Inteligência Cósmica fluía abaixo dos céus para a Terra. Escolasticismo: o combate da humanidade por um entendimento claro da Inteligência que está fluindo. A Alma-Espiritual, e com ela a Inteligência, começam a se tornar parte da humanidade. A sabedoria Rosacruz consistia nisto: que a pessoa tivesse uma certa clareza da compreensão desses fatos. No domínio do Sol, MICHAEL reuniu ao seu redor as almas que então, no início do século 15, estavam unidas na Escola suprassensível de MICHAEL. A partir deste momento, o princípio de MICHAEL era para ser desenvolvido através da própria Inteligência da alma humana (em si mesma) até o início da nova Era de MICHAEL na Terra, no final do século 19. A grande crise a partir do início do século 15 até os nossos dias é a batalha de Ahriman contra MICHAEL. Ahriman quer fazer a antiga Inteligência Cósmica tornar-se inteiramente terrena. A transferência da Inteligência Cósmica para o sistema neuro-sensorial (a organização da cabeça) no homem é vivenciada a partir do mundo espiritual como se uma tempestade cósmica estivesse em curso. Tal evento pela última vez tinha ocorrida no tempo da Atlântida, quando a Inteligência Cósmica, enquanto permanecesse cósmica, tomou posse dos corações dos homens. Através da espiritualização do intelecto, o homem-cabeça deve agora se tornar novamente um homem-coração. Fim do século.
VIII. A Luta de Ahriman contra o Princípio de Michael. A Mensagem de Michael 1º de agosto de 1924. O domínio anterior de Michael, sua estampa cosmopolita e seu objetivo: a consciência que, apesar da Queda (do Paraíso), o homem pode, afinal, ascender à Divindade. Desde o século 8-9, a Inteligência Cósmica passou das mãos de Michael para as mãos dos homens. Conflito entre os Escolásticos e os seguidores Maometanos do ensino aristotélico. Na última era (idade) de Michael, uma atmosfera de desencorajamento ocorreu nos antigos Mistérios; foi uma era de grandes testes e provas. A palavra de Michael naquela época era: o homem deve alcançar a Pan-Inteligência, deve apoderar-se do Divino na Terra na forma de sem pecado. Na nova era de Michael, os homens terão que se conscientizar do caminho de sua salvação, e realizar que devem se libertar do objetivo de Ahriman que é de tomar posse da Inteligência que chegou às mãos dos homens. Os antropósofos (pesquisadores da Ciência Espiritual Cristã de Rudolf Steiner) devem aprender a compreender que o cosmos HOJE está engajado nesta batalha de Ahriman contra Michael. Reflexos terrenos dos ensinamentos de Michael no suprassensível em Raymond de Sabunde (***). É impulso de Michael conduzir os homens novamente ao ponto onde eles leiam no Livro da Natureza, não apenas no Livro da Revelação.
IX. Entrada das Forças de Michael. Caráter Decisivo dos Impulsos de Michael 03 de agosto de 1924. Os impulsos de Michael são de tal natureza que penetram profunda e intensamente no todo do ser humano, inclusive, em seu carma físico. O tempo da grande crise. Os impulsos de Micael estão preocupados com grandes decisões. Os seres humanos que, na presente encarnação, recebem os impulsos de Michael através da Antroposofia estão, portanto, preparando seu ser integral de tal forma que estes impulsos de Micael penetrem até mesmo nas forças que, de outra forma, seriam meramente determinadas pelas conexões de raça e nação. As mais intimas e finas (sutis) conexões da vida devem ser observadas; elas se estendem mesmo até aos reinos dos Anjos. Enquanto a comunidade de Michael está sendo formada aqui na Terra, o reino dos Anjos se transforma em um reino duplo: um reino dos Anjos com a tendência ascendente e outro com tendência descendente. O intelectualismo prevalente em todo lugar atualmente é alimento espiritual para os Poderes Ahrimanicos. As possibilidades de Ahriman se apossar da civilização tornam-se cada vez maiores. Uma diminuição ou desvirtuamento (distorção) da consciência no ser humano dá a Ahriman a possibilidade de incorporar a si mesmo e trabalhar a partir deste ser humano. A era (idade) está preocupada, em relação a decisões muito importantes.
X. Os Michaelitas: seu Impulso Cármico em Direção à Vida Espiritual. O trabalho de Ahriman na outrora Inteligência Cósmica e agora Inteligência Pessoal 04 de agosto de 1924. Ao impulso cármico impelindo o homem em direção ao Espiritual, somam-se todas as experiências vivenciadas da maneira descrita antes que as almas descessem à presente vida terrena. Demanda-se do antroposofista a iniciativa interior da alma. Mina-se a iniciativa através do intelectualismo materialista, tão amplamente difundido atualmente. O medo indeterminado da vida. O materialismo se aplica positivamente apenas à vida física. A tragédia no carma dos homens que não conseguem encontrar o caminho para a espiritualidade. Chegará o tempo em que, nos seres humanos que forem atraídos pelo Espírito nesta encarnação terrena, o Espírito revelará seu próprio poder no formar da fisionomia, moldando toda a forma do homem. Para aqueles que hoje se encontram no campo do materialismo, será demonstrado que o Espírito é criativo, pois eles o contemplarão em forma e feições exteriores. A luta de Ahriman para arrancar a Inteligência de Michael. Os espíritos Ahrimanicos não podem encarnar, mas podem incorporar-se temporariamente e, assim, atuar nas almas dos homens. Ahriman apareceu realmente desta forma como um autor. (Veja o final da próxima aula. O Anticristo e o Ecce Homo de Nietzsche).
XI. Evolução do Princípio de Michael através dos Tempos. A Cisão na Inteligência Cósmica 08 de agosto de 1924. A batalha travada pelos estudiosos da Ordem Dominicana para manter e sustentar a pessoal imortalidade do homem. Averróis/ Averroes (****) declarado herege. Hoje, temos que dizer: "No sentido em que o homem se tornou imortal, quanto à sua Alma-Espiritual, ele de fato alcançou a imortalidade — a contínua consciência da personalidade após atravessar o umbral da morte — mas ele alcançou isto somente a partir do momento em que a Alma-Espiritual assumiu sua morada no homem terreno." A Inteligência Solar de Michael e as Inteligências Planetárias. No século 9 DC, com a descida da Inteligência Cósmica nos homens, a Inteligência Solar de Michael e as Inteligências Planetárias gradualmente entraram em oposição cósmica uma à outra. No Concílio Ecumênico de 869 DC, foi dado o sinal para um evento avassalador no mundo espiritual superior: uma cisão entre os Anjos que guiam as almas humanas, levando à desordem no carma dos homens. Este é o elemento caótico na história dos tempos recentes. Com a penetração de Michael na autoridade terrena, Michael traz o poder que restaura a ordem no carma daqueles que foram com ele. A restauração da verdade no carma. A missão da Antroposofia.
NOTAS
(*) EU: O ser humano é formado de quatro membros, corpo físico, corpo etérico (corpo de vida), corpo astral(alma) e Eu(Espírito), na Metodologia de Pesquisa da Ciência Espiritual Cristã (Antroposofia) de Rudolf Steiner.
(**) O ser humano é subdividido em três partes: Pensar, Sentir, Querer (Vontade). Ou seja, sistema neuro-sensorial, sistema circulatório e respiratório, sistema metabólico e membros.
(***) Raymonde de Sabunde (1.385-1.432) escreveu "Theologia Naturalis.
(****) Ibn Rushd, latim arcaico Averroes 1.126-1.198), defendeu o
aristotelismo contra o platonismo.
24 setembro 2025
Considerações e Manifestações do Carma. Rudolf Steiner
Considerações, Sonia von Homrich
Termos usados na Ciência Espiritual Cristã de Rudolf Steiner ou Antroposofia, não tem o mesmo significado aos usados em outras correntes espirituais como o Espiritismo, ou mesmo Induismo apesar da semelhança. Para compreender a Ciência Espiritual Cristã de Rudolf Steiner há que se compreender o seu método e por esta razão, a metodologia de pesquisa a ser empregada é a de Goethe e Steiner e não a das Ciências Naturais ou outras Ciências.
O Ciclo de Palestras abaixo deve ser acessado no site rsarchive.org e está em Inglês. No entanto, existe a possibilidade de tradução do texto da palestra para o português ou outras línguas, na própria página na qual a palestra é aberta. Por pior que seja a tradução, como ela está inserida na própria página do arquivo, a possibilidade da tradução ser menos distorcida do que em qualquer outro mecanismo de IA é menor, já que o universo de palavras já está no próprio site, porém não existem garantias.
Claro que as melhores traduções de textos complexos são feitos por seres humanos que conhecem a própria Ciência Espiritual de Rudolf Steiner e que se preocupam com a veracidade das traduções ao invés de simplesmente facilitar a leitura.
Eu não sou tradutora formal da obra de Rudolf Steiner, simplesmente por necessidade pessoal já que investigo, pesquiso a Ciência Espiritual Cristã de Rudolf Steiner, desde a década de 70 eu faço as minhas traduções pessoais recorrendo a várias linguas quando necessário, embora eu prefira as traduções para a língua inglêsa.
As palestras de Steiner podem ser encontradas no original, alemão e em diversas línguas. Inglês, Francês, Italiano, Espanhol. Online eu conheço o https://rsarchive.org/ A opção da tradução está na coluna ao lado esquerdo já na página principal.
Sonia von Homrich, 24 Set 2025.
Palestra: Rudolf Steiner. Predisposição adquirida a doenças
(Na última palestra), falamos sobre a natureza da dor, que
pode estar relacionada a uma doença; também apontamos como, em outros casos,
uma doença pode seguir seu curso — pelo menos em certo sentido — sem ser
acompanhada de dor.
Devemos agora considerar a natureza da dor com um pouco mais
de detalhes. Devemos ter em mente o fato de que a dor pode se manifestar lado a
lado com a doença. Em nossa última discussão, já concluímos que não podemos
considerar doença e dor como inseparáveis. Devemos estar cientes de que, se a
dor está relacionada a uma doença, deve haver algo mais em jogo do que a mera
doença. Destacamos que o processo que ocorre durante a transição de uma
encarnação para outra, por meio do qual eventos de encarnações anteriores são
transformados em causas de doença, é influenciado, por um lado, pelo princípio
luciférico e, por outro, pelo princípio Ahrimanico.
Como lançamos as bases das doenças? Por que adquirimos uma predisposição para a doença? O que nos induz, entre a morte e o renascimento, a preparar forças que se manifestarão como doença em nossa próxima vida?
Fonte/ Source: Rudolf Steiner.GA 120. Manifestations
of Karma.
Manifestações do Carma. 22 May 1910. 22 Maio 1910. Hamburg
https://rsarchive.org/Lectures/GA120/English/RSP1984/19100522p01.html
Conteúdo do Ciclo de Palestras GA 120
https://rsarchive.org/Lectures/GA120/English/RSP1984/19100522p01.html
I. A Natureza e o Significado do Carma no Individual e
Pessoal; e na Humanidade, na Terra e no Universo. 16 de maio de 1910
II. Carma e o Reino Animal. 17 de maio de 1910
III. Carma em Relação à Doença e à Saúde. 18 de maio de 1910
IV. A Curabilidade e a Incurabilidade das Doenças em Relação
ao Carma. 19 de maio de 1910
V. Doenças Naturais e Acidentais em Relação ao Carma. 20 de
maio de 1910
VI. As Relações entre Carma e Acidentes. 21 de maio de 1910
VII. Forças da Natureza, Erupções Vulcânicas, Terremotos e
Epidemias em Relação ao Carma. 22 de maio de 1910
VIII. Carma dos Seres Superiores. 25 de maio de 1910
IX. Efeitos Cármicos de Nossas Experiências como Homens e
Mulheres. Morte e Nascimento em Relação ao Carma. 26 de maio de 1910
X. Livre-arbítrio e Carma no Futuro da Evolução Humana, 27
de maio de 1910
XI. Carma Individual e Humano. Carma dos Seres Superiores, 28 de maio de 1910
Links para quem lê em Inglês
I. |
16th May, 1910 |
|
II. |
17th May, 1910 |
|
III. |
18th May, 1910 |
|
IV. |
The Curability and Incurability of
Diseases in Relation to Karma |
19th May, 1910 |
V. |
20th May, 1910 |
|
VI. |
21st May, 1910 |
|
VII. |
Forces of Nature, Volcanic
Eruptions, Earthquakes and Epidemics in Relation to Karma |
22nd May, 1910 |
VIII. |
25th May, 1910 |
|
IX. |
Karmic Effects Of Our Experiences
As Men and Women. Death and Birth In Relationship to Karma |
26th May, 1910 |
X. |
27th May, 1910 |
|
XI. |
28th May, 1910 |
|
|
|
|
12 setembro 2025
Desafio de Rudolf Steiner. Filme
Desafio de Rudolf Steiner
Os insights únicos e a pesquisa de Rudolf Steiner em assuntos como educação, medicina, agricultura e muitos outros, é uma perene fonte de inspiração. O Desafio de Rudolf Steiner do Diretor britânico Jonathan Stedall, visa trazer Rudolf Steiner para maiores audiências.
Legendas em Português agora disponíveis para download do site
http://rudolfsteinerfilm.squarespace.com/;jsessionid=A9E63EE52A90EECD086BD3A563CF6922.v5-web011
11 setembro 2025
Cristo e a Alma Humana. Rudolf Steiner
Cristo e a Alma Humana
Tradução:
Sonia von Homrich
Fonte: Rudolf
Steiner. GA 155. Christ and the Human Soul. Lecture IV. Norrköping, 16th July,
1914.
https://rsarchive.org/Lectures/GA155/English/RSP1972/19140716p01.html
Temas deste ciclo de palestras, abaixo
A humanidade sempre necessita de verdades que não podem, em
todas as épocas, serem totalmente compreendidas. A assimilação de verdades não
é significativa apenas para o nosso conhecimento; as próprias verdades contêm
força vital. Ao nos permearmos com a verdade, permeamos nossa natureza anímica
com um elemento extraído do mundo objetivo, assim como precisamos permear nosso
ser físico com ar extraído de fora para viver. Verdades profundas são de fato
expressas em grandes revelações religiosas, mas de tal forma que seu verdadeiro
significado interior muitas vezes só é compreendido muito, muito mais tarde.
O Novo Testamento foi escrito e permanece como um registro
para a humanidade — no entanto, todo o curso futuro da evolução da Terra será
necessário para que se alcance uma compreensão completa do Novo Testamento. No
futuro, os homens adquirirão muito conhecimento do mundo externo e também do
mundo espiritual; e, se tomado no sentido correto, tudo contribuirá para a
compreensão do Novo Testamento. A compreensão se dá gradualmente, mas o Novo
Testamento foi escrito de forma simples, para que possa ser absorvido e,
posteriormente, gradualmente compreendido. Permear-nos com a verdade que reside
no Novo Testamento não é sem significado, mesmo que ainda não possamos
compreender totalmente a verdade nele contida, em sua mais profunda
interioridade. Mais tarde, a verdade se torna força cognitiva, já como força
vital, na medida em que é absorvida de forma mais ou menos infantil. E se as
questões que começamos a considerar ontem (Conferência no dia anterior) devem
ser entendidas no sentido em que são transmitidas no Novo Testamento,
precisamos de um conhecimento mais profundo, de uma maior compreensão do mundo
espiritual e de seus mistérios.
Se quisermos prosseguir com os estudos que iniciamos ontem,
precisamos examinar novamente alguns mistérios ocultos, pois eles poderão nos
guiar para uma maior compreensão do enigma da culpa e do pecado e, desse ponto
de vista, lançar luz sobre a relação de Cristo com a alma humana.
No decorrer do nosso trabalho antroposófico, frequentemente
nos deparamos com um ponto de vista que pode ser formulado como uma pergunta
frequentemente feita: Por que Cristo morreu em um corpo humano? Esta, de fato,
é uma questão fundamental a respeito do Mistério do Gólgota. Por que Cristo
morreu, por que Deus morreu, em um corpo humano?
Deus morreu porque a
evolução do universo fez ser necessária para que Ele pudesse entrar na
humanidade; era necessário que um Deus dos mundos superiores se tornasse o
líder da evolução da Terra. Por essa razão, Cristo teve que se relacionar com a
morte. Relacionado com a morte! Seria desejável que essa expressão fosse
profundamente compreendida pela alma humana.
Em geral, o ser humano encontra a morte apenas quando vê
outra pessoa morrer, ou em outros fenômenos semelhantes à morte que podem ser
encontrados no mundo, ou na certeza de que ele próprio deve passar pelo portal
da morte quando sua encarnação atual terminar. Mas esse é apenas o aspecto
externo da morte. A morte está presente de uma forma bem diferente no mundo em
que vivemos, e é preciso chamar a atenção para isso. Comecemos com um fenômeno
bastante comum e cotidiano. Inspiramos o ar e o expiramos novamente; mas o ar
sofre uma mudança. Quando o ar é exalado, é ar morto; como ar exalado, não pode
ser inalado novamente, pois o ar exalado é mortal. Indico isso apenas para que
você possa entender o significado do ditado oculto: "Quando o ar entra no ser
humano, ele morre". O elemento vivo no ar de fato morre quando entra no
ser humano. Esse, no entanto, é apenas um fenômeno. O raio de luz que penetra
em nossos olhos deve morrer da mesma forma, e não ganharíamos nada com os raios
de luz se nossos olhos não se opusessem ao raio de luz, como nossos pulmões se
opõem ao ar. A luz que entra em nossos olhos morre em nossos olhos; e através
da morte da luz em nossos olhos é que enxergamos. Estamos cheios de muito daquilo
que precisa morrer em nós para que possamos ter nossa consciência terrena.
Corporalmente, matamos o ar; Matamos também os raios de luz que nos penetram, e
assim matamos de muitas maneiras.
Quando invocamos a Ciência Espiritual em nosso auxílio,
distinguimos quatro graus de substância: terra, água, ar e calor. Entramos
então no reino onde falamos de éter-calor, de éter-luz. Até o éter-luz, matamos
o que nos penetra; matamo-lo incessantemente para que possamos ter nossa
consciência terrena. Mas há algo que não podemos matar com nossa existência
terrena. Sabemos que acima do éter-luz existe o chamado éter químico, e então
vem o éter-vida. Esses são os dois tipos de éter que não podemos matar. Mas,
por causa disso, eles não têm uma participação especial em nós. Se fôssemos
capazes de matar o éter químico, as ondas da Harmonia das Esferas soariam
perpetuamente em nosso corpo físico, e nós destruiríamos perpetuamente essas
ondas com nossa vida física.
E se também matássemos o éter vital, destruiríamos e
mataríamos continuamente dentro de nós a vida cósmica que flui para a Terra. No
som terrestre, recebemos um substituto, mas não se compara ao que ouviríamos se
o éter químico fosse audível para nós como seres humanos físicos. Pois o som
físico é um produto do ar e não é o som espiritual; é apenas um substituto para
o som espiritual.
Quando a tentação luciférica surgiu, os deuses progressistas
foram obrigados a colocar o ser humano em uma esfera onde, do éter vital para
baixo, a morte vive em seu corpo físico. Mas naquela época os deuses
progressistas disseram — e as palavras estão na Bíblia — "O homem conheceu
a distinção entre o Bem e o Mal, mas a Vida ele não terá. Da Árvore da Vida ele
não comerá". No esoterismo, podemos continuar a frase "Da Árvore da
Vida o homem não comerá", acrescentando as palavras "e o Espírito da
Matéria ele não ouvirá". Da Árvore da Vida o homem não comerá e o Espírito
da Matéria não ouvirá! Estas são as regiões que estavam fechadas ao homem.
Somente através de um certo procedimento nos antigos Mistérios os tons da
Música das Esferas e da Vida Cósmica, pulsando através do universo, foram
revelados àqueles que eram iniciados quando lhes foi dado, fora do corpo, ver
Cristo antecipadamente. Por esta razão, os antigos filósofos falem da Música
das Esferas.
Ao chamar a atenção a isso, indicamos ao mesmo tempo as
regiões de onde o Cristo veio a nós na época do Batismo de João no Jordão. De
onde veio Cristo? Ele veio daquelas regiões que haviam sido fechadas ao ser
humano como resultado da tentação luciférica — da região da Música das Esferas
e da região da Vida Cósmica. Essas regiões tiveram que ser esquecidas pelo ser
humano por causa da tentação luciférica no início da evolução da Terra. No
batismo de João no Jordão, Cristo entrou em um corpo humano (vivo), e o que
permeava esse corpo humano era a essência espiritual da Harmonia das Esferas, a
essência espiritual da Vida Cósmica — o elemento que ainda pertencia à alma
humana durante a primeira fase de seu tempo na Terra, mas do qual a alma humana
teve que ser excluída como resultado da tentação luciférica. Nesse sentido,
também o ser humano se relaciona com o espírito. Com sua alma, ele realmente
pertence à região da Música das Esferas e à região do Verbo, do Éter Cósmico Vivo.
Mas ele foi expulso dessas regiões. Elas deveriam ser-lhe restituídas para que
ele pudesse gradualmente ser novamente permeado pelos elementos espirituais dos
quais foi exilado. É assim que, do ponto de vista da Ciência Espiritual de
Rudolf Steiner, as palavras do Evangelho de São João nos tocam tão
profundamente: No princípio primordial, quando o homem ainda não estava sujeito
à tentação, estava o Logos. O homem pertencia ao Logos... o Logos estava com
Deus, e o homem estava com o Logos, com Deus. E através do Batismo de João no
Jordão, o Logos entrou na evolução humana — Ele se tornou Homem.
Aqui temos a conexão importantíssima. Deixemos esta verdade
como está e abordemos a questão de outro ângulo. A vida como um todo se mostra
a nós apenas do lado externo. Caso contrário, o homem saberia o tempo todo como
absorve o cadáver da luz em seus olhos quando vê.
O que Cristo teve que empreender para que o cumprimento da
frase de São Paulo: "Não eu, mas Cristo em mim", pudesse ser
possível? Tinha que ser possível que Cristo permeasse a natureza do homem; mas
a natureza do homem está repleta do que é morto pela natureza humana na
existência terrena, do éter de luz para baixo — o éter de luz que morre no olho
humano. A natureza do ser humano está repleta de morte; mas o elemento vital
nos dois tipos mais elevados de éter foi retirado para que a natureza humana
não fosse também carregada junto com a morte. Para que Cristo pudesse habitar
em nós, Ele teve, portanto, que se relacionar com a morte, com toda a morte que
se espalha pelo mundo, desde a luz até as profundezas da materialidade. Cristo
teve que ser capaz de passar por tudo o que carregamos dentro de nós como o
cadáver da luz, do calor, do ar e assim por diante. Foi somente porque Ele foi
capaz de se relacionar com a morte que Ele pôde se relacionar com o ser humano.
E devemos sentir em nossas almas que Deus teve que morrer para que pudesse nos
preencher, nós que adquirimos a morte como resultado da tentação luciférica,
para que pudéssemos dizer: "Cristo em nós".
Muitas outras coisas estão ocultas para o ser humano atrás
da existência sensorial. Ele volta seu olhar para o mundo vegetal; ele vê como
a luz do Sol conjura as plantas para fora do solo. A ciência nos ensina que a
luz é necessária para o crescimento das plantas, mas isso é apenas metade da
verdade.
Quem observa as plantas com clarividência vê elementos
espirituais vivos emergindo delas. A luz mergulha nas plantas e delas emerge
novamente como um elemento espiritual vivo. Nos animais, é o éter químico que
penetra, e esse éter químico não é perceptível ao ser humano; se ele pudesse
ter consciência do éter químico, soaria espiritualmente. Os animais transformam
esse éter em espíritos da água. As plantas transformam a luz em espíritos do
ar; os animais transformam o espírito ativo no éter químico em espíritos da
água. Finalmente, o éter cósmico, ou éter da vida, que o ser humano é impedido
de matar e sem o qual não poderia viver — ele transforma o éter da vida em Espíritos
da Terra.
Em uma série de palestras proferidas em Karlsruhe, “De Jesus
a Cristo” https://rsarchive.org/Lectures/FromJ2C1973/FJ2C73_index.html
falei certa vez do "fantasma"
humano. Este não é o momento de traçar o fio condutor entre o que será dito
aqui e o que foi dito então sobre o "fantasma" humano, mas tais fios
condutores existem e talvez você os encontre por si mesmo. Hoje, preciso
apresentar o assunto por outro ângulo.
Há algo perpetuamente engendrado no ser humano que também é
espiritual — a vida no ser humano. Isso está sempre se espalhando para o mundo.
O homem projeta uma aura ao seu redor, uma aura de raios com a qual enriquece
continuamente o elemento terreno-espiritual da Terra. Esse elemento
terreno-espiritual da Terra, no entanto, contém todas as qualidades, morais ou
não, que o homem adquiriu e carrega consigo, pois ele as envia para o seu
ambiente terreno. Isso é verdade absoluta. A visão clarividente percebe como o ser
humano envia sua aura moral, intelectual e estética para o mundo, e como essa
aura continua a viver como espírito terreno na espiritualidade da Terra. Assim
como um cometa arrasta sua cauda pelo Cosmos, o ser humano atrai, por toda a
vida terrena, a aura espiritual que projeta. Essa aura espiritual se mantém
unida, como um fantasma, durante a vida do homem, mas, ao mesmo tempo, irradia
para o mundo as propriedades morais e intelectuais da sua alma.
Quando, em nossos estudos ocultos, remontamos aos tempos
anteriores ao Mistério do Gólgota, descobrimos que os seres humanos daquela
época simplesmente irradiavam essa entidade fantasmagórica, que continha suas
qualidades morais, para o mundo externo, para a aura espiritual externa da
Terra. Mas a humanidade se desenvolveu no curso da existência da Terra, e
justamente na época em que o Mistério do Gólgota aconteceu, um certo estágio
havia sido alcançado na evolução dessa entidade fantasmagórica. Em tempos anteriores,
ela era muito mais evanescente; na época do Mistério do Gólgota, ela havia se
tornado mais densa, tinha mais forma; e nessa entidade fantasmagórica estava
agora misturada, como característica fundamental, a morte que o ser humano
desenvolve em si mesmo ao matar o raio de luz que entra em seu olho, e assim
por diante, como expliquei. Essas entidades espirituais da Terra que irradiam
do ser humano são como uma criança natimorta, porque elas lhes transmitem sua
morte. Se Cristo não tivesse vindo à Terra, então, durante a permanência de
suas almas em corpos terrestres, os seres humanos poderiam ter irradiado
continuamente entidades com a marca da morte sobre si. E a essa marca da morte
estariam ligadas as qualidades morais do ser humano de que falamos ontem: culpa
objetiva e pecado objetivo. Estes estariam contidos nela.
Suponhamos que o Cristo não tivesse vindo para a terra. O
que teria acontecido na evolução da Terra? A partir do momento em que o
Mistério do Gólgota teria ocorrido, os seres humanos teriam criado
espiritualmente formas densas às quais teriam transmitido a morte. E essas
formas densas teriam se tornado naquelas próprias que tiveram que passar para o
estágio de Júpiter, com a Terra. O ser humano teria transmitido a morte à
Terra. Uma Terra morta teria dado à luz um Júpiter morto.
Não poderia ter sido de outra forma, porque se o Mistério do
Gólgota não tivesse existido, o ser humano não teria sido capaz de permear as
radiações que ele emite com as essências da Música das Esferas e da Vida
Cósmica. Essas essências não estariam lá; elas não teriam fluído para as
radiações humanas; mas Cristo as trouxe de volta através do Mistério do Gólgota.
E quando há o cumprimento das palavras: "Não eu, mas Cristo em mim",
quando criamos um relacionamento com Cristo dentro de nós mesmos, aquilo que irradia
de nós e que de outra forma estaria morto, torna-se vivo. Como carregamos a
morte dentro de nós, o Cristo vivo precisa nos permear, a fim de que Ele possa
dar vida ao ser espiritual terrestre que deixamos para trás. Cristo, o Logos
vivo, permeia e dá vida à culpa e ao pecado objetivos que se desprendem de nós
e não são levados adiante em nosso Carma. Porque Ele lhes dá vida, uma Terra
viva evoluirá para um Júpiter vivo. Este é o resultado do Mistério do Gólgota.
Através da reflexão, a alma, pode receber Cristo ao perceber que houve um
tempo em que o ser humano estava no seio do Logos divino. O ser humano teve que
sucumbir à tentação de Lúcifer. O ser humano tomou a morte para si; para ele passou o germe pelo
qual ele teria feito uma Terra morta nascer como um Júpiter
morto. A dotação era prévia à tentação luciférica
onde o que a alma humana estava destinada a receber para sua existência terrena, foi deixado para trás.
E entra novamente na existência
terrena do ser humano, com Cristo.
Quando o ser humano acolhe Cristo em si, de modo a sentir-se
permeado por Cristo, ele é capaz de dizer a si mesmo: “O dom que os deuses me concederam
antes da tentação luciférica, e que devido a ela, teve que permanecer no
Cosmos, entra em minha alma com Cristo. A alma torna-se completa novamente,
pela primeira vez, ao acolher Cristo em si. Só então sou uma alma plena; só
então sou novamente tudo o que os deuses pretendiam que eu fosse desde o início
da Terra.” “Sou realmente uma alma sem Cristo?”, o ser humano se pergunta, e
sente que é por meio de Cristo que ele se torna pela primeira vez a alma que os
Seres Divinos que o guiaram no passado, pretendiam que ele fosse. Este é o
maravilhoso sentimento de “estar em casa – de lar” que as almas podem ter com
Cristo; pois do lar cósmico primordial na alma do ser humano, Cristo, desceu com a finalidade de devolver à alma do ser
humano aquilo que obrigatoriamente tinha que ser perdido na Terra como
resultado da Tentação de Lúcifer. Cristo conduz a alma novamente ao seu lar
primordial, o lar que lhe foi concedido pelos deuses.
Essa é a bem-aventurança e a bênção da experiência real de
Cristo na alma humana. Foi isso que proporcionou tamanha bem-aventurança a
certos místicos cristãos na Idade Média. Eles escreveram muito do que, por si
só, parece ser fortemente influenciado pelos sentidos, mas que fundamentalmente,
era espiritual. Místicos cristãos como aqueles que se juntaram a Bernardo de
Claraval (1) e outros, sentiam que a alma humana era a noiva que havia perdido
seu noivo no início primordial da Terra. Quando Cristo entrou em suas almas,
enchendo-as de vida, de alma e espírito, eles experimentaram Cristo como o
noivo-alma que se uniu à alma; o noivo que se perdeu quando a alma abandonou
seu lar original para seguir Lúcifer pelo caminho da liberdade, o caminho da
diferenciação entre o bem e o mal.
Quando a alma do ser humano realmente vive em Cristo,
sentindo que Cristo é o Ser Vivente que desde a morte no Gólgota, fluiu para a
atmosfera da Terra e para a alma, ela se sente interiormente vivificada por
meio do Cristo. A alma sente uma transição da morte para a vida.
Enquanto tivermos que viver nossa existência terrena em
corpos humanos (o que continuará por um futuro distante), não ouvimos
diretamente a Música das Esferas nem temos a vivência direta da Vida Cósmica.
Mas podemos sim experimentar a Vinda de Cristo e, assim, receber, por assim
dizer, por procuração, aquilo que de outra forma, nos adviria da Música das
Esferas e da Vida Cósmica.
Pitágoras, um Iniciado dos Mistérios antigos, falou da
Música das Esferas. Ele havia passado pelo processo através do qual a alma
deixa o corpo e era transportada para os mundos espirituais, onde ele viu Cristo
que mais tarde viria à Terra. Desde o Mistério do Gólgota, não podemos mais falar
da Música das Esferas como Pitágoras, mas podemos falar dela de outra maneira.
Um Iniciado poderia até hoje falar como Pitágoras; mas o habitante comum da
Terra, em seu corpo físico, só pode falar da Música das Esferas e da Vida
Cósmica quando experimenta/vivencia em sua alma: "Não eu, mas Cristo em
mim", pois Cristo dentro dele viveu na Música das Esferas e na Vida
Cósmica. Devemos passar por essa
experiência em nós mesmos; devemos realmente receber Cristo em nossas almas.
Suponhamos que o ser humano lutasse contra isso, que não
desejasse receber Cristo em sua alma. Então, ele chegaria ao fim do período
terrestre e, na nebulosa estrutura espiritual que então tomou forma a partir
dos espíritos terrestres que surgiram no curso da evolução humana, ele teria
todos os seres fantasmagóricos que dele se originaram em encarnações
anteriores. Todos eles estariam lá. A tendência aqui indicada levaria a uma
Terra morta, e esta passaria morta, para Júpiter. No final do período
terrestre, um ser humano poderia ter cumprido e absolvido completamente seu
Carma; poderia ter compensado pessoalmente todos os seus atos imperfeitos;
poderia ter se tornado completo em seu ser anímico (astral, alma), em seu EU
(espírito), mas o pecado e a culpa objetivos permaneceriam. Esta é uma
verdade absoluta, na medida que não vivemos apenas para nós mesmos, de tal modo
que, ajustando nosso Carma, possamos nos tornar egoisticamente mais próximos da
perfeição; vivemos sim, para o mundo, e no final dos tempos os restos de
nossas encarnações na Terra permanecerão ali como um quadro poderoso, se não
tivermos recebido em nós, o Cristo vivo.
Quando conectamos o que foi dito ontem com o que está sendo
dito hoje (e é realmente a mesma coisa, apenas visto de lados diferentes),
entendemos como Cristo assume sobre Si a culpa e o pecado da humanidade
terrestre, na medida em que estes são culpa e pecado objetivos.
E se compreendermos
interiormente o "Não eu, mas Cristo em mim", o Cristo em nós, então
Ele assume os restos objetivos de nossas encarnações anteriores, os
restos permanecem ali vivificados por Cristo, irradiados por Cristo e permeados
por Sua vida. Sim, os restos de nossas encarnações permanecem ali, e no que
estes restos se resumem, tomados como um todo?
Como Cristo os une a todos, Cristo, que pertence a toda a
humanidade no presente e no futuro, os restos de cada encarnação são todos
comprimidos. Cada alma humana vive em encarnações sucessivas. De cada
encarnação, certas relíquias ou restos são deixados, como descrevemos.
Encarnações subsequentes deixarão outros restos, e assim por diante, até o fim
do período terrestre. Se essas relíquias forem permeadas por Cristo, elas serão
comprimidas. Comprima o que é rarefeito e você obterá densidade. O espírito
também se torna denso, e assim nossas encarnações coletivas na Terra são unidas
em um corpo espiritual. Este corpo nos pertence, precisamos dele porque estamos objetivamente evoluindo
para Júpiter, e o ponto de partida da nossa encarnação em Júpiter são as nossas
relíquias comprimidas quando vivificadas, permeadas por Cristo (E assim, ao
invés de restos mortos produzindo um Júpiter morto, produzimos um Júpiter vivo).
No final do período terrestre, estaremos lá com a alma — qualquer que seja o
carma específico da alma. Estaremos lá
diante de nossas relíquias terrenas que foram reunidas por Cristo, e teremos
que nos unir a elas para passar com elas para Júpiter. Como vestir uma
armadura.
Ressuscitaremos no corpo, no corpo terreno que se condensou
das encarnações anteriores, separadas. Em verdade, meus caros amigos, com o
coração profundamente comovido, pronuncio estas palavras: "No corpo,
ressuscitaremos!"
Quantas vezes já ouvimos esta expressão?
Aqueles que buscam aprofundar seu conhecimento oculto dos
mistérios do universo se esforçam gradualmente para alcançar a compreensão do
que foi dito à humanidade, porque, como expliquei no início da palestra — isso
precisava ser dito antes de tudo, para que os seres humanos pudessem
compreendê-lo como uma verdade vital e, mais tarde, entendê-lo.
Aqueles que buscam aprofundar seu conhecimento oculto nos
mistérios do universo, se esforçam
gradualmente para alcançar a compreensão do que foi dito à humanidade, porque, como
expliquei no início da palestra — isso teve que ser dito antes de tudo, para
que os seres humanos pudessem compreendê-lo como verdade vital e entendê-lo
mais tarde. A ressurreição do corpo é uma realidade, mas nossa alma deve
sentir que ressuscitará com as relíquias terrenas que foram coletadas, reunidas
por Cristo, pelo corpo espiritual que está permeado por Cristo. É isso que
nossa alma deve aprender a compreender. Pois suponhamos que, por não termos
recebido em nós o Cristo vivo, não pudéssemos nos aproximar deste corpo
terreno, com seu pecado e culpa, e nos unir a ele. Se tivéssemos rejeitado o
Cristo, as relíquias de nossas várias encarnações seriam dispersas no final do
período terrestre; elas teriam permanecido, mas não teriam sido reunidas pelo
Cristo, que espiritualiza toda a humanidade. Deveríamos permanecer como almas
no fim do período terrestre e estaríamos ligados à Terra, àquela parte da Terra
que permanece morta em nossas relíquias. Certamente nossas almas seriam livres
no espírito, num sentido egoísta, mas seríamos incapazes de nos aproximar de
nossas relíquias corpóreas. Tais almas são o butim de Lúcifer, pois ele se
esforça para frustrar o verdadeiro objetivo da Terra; ele tenta impedir que as
almas alcancem seu objetivo terrestre, para retê-las no mundo espiritual,
impedir que elas evoluam para Júpiter. E no período de Júpiter, Lúcifer enviará
o que restou das relíquias terrestres dispersas como um conteúdo morto de
Júpiter. Ele não se separará de Júpiter como a Lua, mas estará dentro de
Júpiter, e estará continuamente impulsionando essas relíquias terrestres para
cima. E essas relíquias terrestres terão que ser animadas como almas-espécies
pelas almas acima.
E agora vocês se lembrarão do que eu lhes disse há alguns
anos: que a raça humana em Júpiter se dividirá entre as almas que atingiram sua
meta terrena, que atingiram a meta de Júpiter, e as almas que formarão um reino
intermediário entre o reino humano e o reino animal, em Júpiter. Estas últimas
serão almas luciféricas — luciféricas, meramente espirituais. Elas terão seu
corpo abaixo, e este será uma expressão direta de todo o seu ser interior, mas
elas só poderão dirigi-lo de fora. Duas raças, a boa e a má, se diferenciarão
uma da outra em Júpiter. Isso foi afirmado anos atrás; hoje desejamos considerar
com mais profundamente.
Uma existência venusiana (Vênus) seguirá a de Júpiter, e
novamente haverá um ajuste através da evolução posterior do Cristo; mas é em
Júpiter que o ser humano perceberá o que significa ser aperfeiçoado apenas em
seu próprio Self, em vez de se preocupar com a Terra, como um todo. Isso é algo
que o ser humano terá que vivenciar durante todo o ciclo de Júpiter, pois tudo
o que ele não permeou com Cristo durante sua existência terrena aparecerá
diante de sua visão espiritual.
Reflitamos, a partir desse ponto de vista, sobre as palavras
de Cristo, com as quais Ele enviou Seus discípulos ao mundo para proclamar Seu
Nome e, em Seu Nome, perdoar pecados. Por que perdoar pecados em Seu Nome?
Porque o perdão dos pecados está conectado com Seu Nome. Os pecados só podem
ser apagados e transformados em “vida viva” se Cristo puder se unir às nossas
relíquias terrenas, se durante nossa existência terrena Ele estiver dentro de
nós no sentido do dito paulino: "Não eu, mas Cristo em mim".
E onde quer que qualquer denominação religiosa se associe em
suas observâncias externas a essa palavra de Cristo, a fim de levar às almas,
repetidamente, tudo o que está conectado com Cristo, devemos buscar o
significado mais profundo nela. Quando, em qualquer denominação religiosa, um
dos servos de Cristo fala do perdão dos pecados, como se fosse uma ordem de
Cristo, significa que, com suas palavras, ele estabelece uma conexão com o
perdão dos pecados por meio de Cristo, e à alma necessitada de conforto, ele
diz, com efeito: “Vi que você desenvolveu um relacionamento vivo com Cristo.
Você está unindo o pecado e a culpa objetivos, o pecado e a culpa objetivos que
entrarão em suas relíquias terrenas, com tudo o que Cristo é para você. Porque
reconheci que você se permeou com Cristo — portanto, ouso dizer-lhe: seus
pecados estão perdoados.”
Tais palavras sempre significam que aquele que, em qualquer
denominação religiosa, fala do perdão dos pecados está convencido de que a
pessoa em questão encontrou uma conexão com Cristo, que deseja carregar Cristo
em seu coração e em sua alma. Por isso, ele pode confortar adequadamente quando
outra pessoa se aproxima dele, consciente de sua culpa. “Cristo o perdoará, e
me é permitido dizer-lhe que, em Seu Nome, seus pecados estão perdoados.”
Cristo é o único perdoador de pecados porque Ele é o portador dos pecados.
A esperança e a confiança no futuro do nosso trabalho podem
habitar em nossos corações, porque nos esforçamos, desde o início, para
preencher o que tínhamos a dizer com a vontade de Cristo. E essa esperança e
confiança podem nos permitir dizer que o nosso ensinamento é, em si mesmo, o
que Cristo quis nos dizer, em cumprimento às Suas palavras: "Eu estou
convosco todos os dias, até o fim dos tempos na Terra". Desejamos
estar atentos apenas ao que vem d’Ele. E tudo o que Ele nos inspirou, de acordo
com a Sua promessa, queremos acolher em nossas almas como nossa Ciência Espiritual
Cristã. Não é porque sentimos que nossa ciência espiritual está imbuída de
qualquer tipo de dogmatismo cristão que a consideramos cristã, mas porque,
tendo Cristo dentro de nós (Não eu, mas Cristo em mim), a vemos como uma
revelação do Cristo em nós mesmos. Portanto, também estou convencido de que o
surgimento da verdadeira ciência espiritual naquelas almas que desejam receber,
conosco, nossa ciência espiritual repleta de Cristo será frutífero para toda a
humanidade, e especialmente para aqueles que acolhem esses frutos. A observação
clarividente mostra que muito do que é bom, espiritualmente bom, em nosso
Movimento provém daqueles que acolheram nossa ciência espiritual cristã e,
então, tendo atravessado o umbral da morte, nos enviam os frutos dessa ciência
espiritual cristã. A ciência espiritual cristã que essas almas acolheram e
agora nos enviam dos mundos espirituais já está viva em nós. Pois elas não a
guardam em seu próprio fluxo cármico em prol de seu próprio aperfeiçoamento;
podem deixá-la fluir para aqueles que desejam recebê-la. Conforto e esperança
surgem para nossa ciência espiritual quando sabemos que nossos chamados "falecidos"
estão trabalhando conosco.
Cristo é o Ser que dá vida às relíquias humanas da Terra, e
um elo maravilhoso com Ele é criado, quando aqueles que desejam servi-Lo confortam-se
com as palavras "Seus pecados estão perdoados" - àqueles que demonstram que em seu ser
interior sentem uma união com Cristo. Pois é como um novo fortalecimento do
relacionamento com Cristo quando a alma percebe: "Compreendi minha culpa e
meus pecados de tal maneira que me pode ser permitido dizer que Cristo os toma
sobre si, opera através deles com Seu ser". Se a expressão "o perdão
dos pecados" deve ser a expressão da verdade, ela deve sempre carregar um
tom que lembre o pecador de seu vínculo com Cristo, mesmo que ele não o forme
novamente. Entre a alma e Cristo deve haver um vínculo tão intenso que a alma
não pode ser lembrada dele com frequência suficiente. E porque Cristo está
ligado ao pecado e à culpa objetivos da alma humana, a alma pode melhor
recordar-se, na vida diária, da sua relação com Cristo, lembrando-se sempre, no
momento do perdão dos pecados, da presença do Cristo Cósmico na existência da
Terra.
Aqueles que se unem à Antroposofia, a Ciência Espiritual
Cristã, com o espírito correto (esotérico), e não apenas num sentido externo
(exotérico), podem, com toda a certeza, tornar-se seus próprios “padres”
confessores. Com toda a certeza, através da Ciência Espiritual, podem aprender
a conhecer Cristo tão intimamente e sentir-se tão intimamente ligados a Ele,
que mantem a consciência direta da Sua presença espiritual. E quando se
consagrarem solenemente a Ele como o Princípio Cósmico, podem, em espírito,
dirigir a Ele a sua confusão e, na sua meditação silenciosa, pedir-Lhe o perdão
dos pecados. Mas, enquanto os homens ainda não se impregnarem da ciência
espiritual neste profundo sentido espiritual, devemos olhar com compreensão
para o que o "perdão dos pecados" significa nas várias observâncias
religiosas do mundo. Os seres humanos se tornarão espiritualmente mais e mais
livres, e nessa maior liberdade espiritual sua comunhão com Cristo se tornará
cada vez mais, uma experiência direta.
E deve haver tolerância! Quem acredita que, através da
profunda compreensão interior que possui do Espírito do Mistério do Gólgota: o
Cristo, mantém uma comunicação direta
com Cristo, olhando com compreensão para aqueles que precisam das declarações
positivas de uma confissão de fé, de um ministro de Cristo que os conforte com
as palavras: "Seus pecados estão perdoados". Por outro lado, deve
haver tolerância por parte daqueles que veem que existem seres humanos que
podem ser independentes. Na vida terrena, tudo isso pode ser um ideal, mas o
antropósofo pode pelo menos admirar tal ideal.
Falei-lhes dos segredos espirituais que possibilitam aos seres
humanos, mesmo aqueles que absorveram muitos ensinamentos antroposóficos —
olhar ainda mais profundamente para toda a natureza do nosso ser. Falei-lhes da
superação do egoísmo humano e das coisas que precisamos compreender antes de
podermos ter uma compreensão correta do Carma.
Falei-vos do ser humano na medida em que ele não é apenas um
ser "Self", mas pertence a toda a existência terrena e, por esta
razão é chamado a contribuir para a realização do objetivo divino designado
para a Terra. Cristo não veio ao mundo e passou pelo Mistério do Gólgota para
que pudesse ser algo para cada um de nós em nosso próprio egoísmo. Seria
terrível se Cristo fosse compreendido de tal forma que as palavras de Paulo:
"Não eu, mas Cristo em mim" servissem apenas para encorajar um
egoísmo ainda maior. Cristo morreu por toda a humanidade, pela humanidade da
Terra. Cristo tornou-se o espírito central da Terra, cujo direito é o de
preservar para a Terra os elementos espirituais-terrenos que emanam do ser
humano.
Hoje em dia, podemos ler obras teológicas — e aqueles que as
leram me confirmarão, que nos asseguram que certos teólogos dos séculos XIX e
XX finalmente se livraram da crença popular medieval de que Cristo veio à Terra
para arrebatar a Terra do Diabo, para arrebatar a Terra de Lúcifer. Dentro da
teologia moderna, existe um materialismo "iluminado" que não se
reconhece como tal, mas, ao contrário, imagina-se especialmente iluminado. Diz
ele: "Na obscura Idade Média, dizia-se que Cristo apareceu no mundo porque
precisava arrebatar a Terra do Diabo". Mas a verdadeira explicação nos
leva de volta àquela crença simples e popular. Pois tudo na Terra que não é
libertado por Cristo pertence a Lúcifer. Tudo o que há de humano em nós, tudo o
que é mais do que aquilo que está meramente confinado em nosso Self, é
enobrecido, torna-se fecundo para toda a humanidade, quando é permeado por
Cristo.
E agora, ao final de nossas considerações dos últimos dias,
não gostaria de concluir sem dizer estas palavras adicionais para cada alma
aqui reunida:
A esperança e a confiança no futuro de nossa ação habitam em
nossos corações, porque nos esforçamos, desde o início, para preencher o que
tínhamos a dizer com a vontade de Cristo. E essa esperança e confiança nos
permitem dizer que nosso ensinamento é, em si mesmo, o que Cristo quis nos
dizer, em cumprimento às Suas palavras: "Eu estou convosco todos os dias,
até o fim dos tempos". Desejamos estar atentos apenas ao que vem d’Ele. E
tudo o que Ele nos inspirou, de acordo com Sua promessa, queremos acolher em
nossas almas como nossa ciência espiritual. Não é porque sentimos que nossa
ciência espiritual está imbuída de qualquer tipo de dogmatismo cristão que a
consideramos cristã, mas porque, ao termos, por nossa vontade livre, Cristo dentro de nós, vemos a revelação do
Cristo em nós mesmos. Portanto, também estou convencido de que o surgimento da
verdadeira ciência espiritual nas almas que desejam receber, conosco, nossa
ciência espiritual repleta de Cristo (Antroposofia) será frutífero para toda a
humanidade, e especialmente para aqueles que acolhem esses frutos.
Com estas palavras, ditas do fundo do meu coração, encerro estas palestras e espero que continuemos a trabalhar juntos no caminho espiritual que abraçamos.
Temas deste Ciclo de Palestras
Aula I. 12 de julho de 1914
Os dois objetivos da evolução da alma humana. A implantação da liberdade no homem e o dom de distinguir entre o bem e o mal, o belo e o feio, o verdadeiro e o falso. A cena em Jerusalém na época da crucificação. A relação do homem com o pecado e culpa e a vinda de Cristo à Terra. Cristo e o judaísmo antigo. Moisés conduziu os judeus para fora do Egito, ele próprio guiado por Cristo, embora não O reconhecesse. A nota fundamental do Antigo Testamento é a Vontade (Força de Vontade); dos Mistérios pagãos, a Sabedoria. O obscurecimento da alma e o chamado: "Homem, conhece-te a ti mesmo!" Imortalidade e passagem pelo portal da morte com consciência. Referência às palavras formuladas a Jó. Amor e individualidade. Através do Mistério do Gólgota, um Ser supraterreno uniu-se à Terra.
Aula II. 14 de julho de 1914
Ideais e realidade assegurada. Almas após a morte e seus ideais na vida terrena. Christian Morgenstern e o impulso que recebeu do mundo espiritual após sua morte. A Ciência Espiritual imbuída de Cristo será uma semente na evolução da humanidade. As forças espirituais que fluíram para as forças humanas foram necessárias para permitir a realização do projeto das Peças de Mistério. Se Cristo permeia os frutos do nosso conhecimento, eles não trabalham apenas para nós, mas para toda a humanidade. "Não eu, mas Cristo em mim." A relação de Cristo com a alma humana; seus efeitos na vida do homem na Terra e entre a morte e o renascimento.
Aula III, 15 de julho de 1914
Os conceitos de pecado, culpa e carma. Os malfeitores à direita e à esquerda de Cristo na cruz. Lúcifer e Arimã: por um lado, oponentes dos Deuses e, por outro, necessários para toda a ordem cósmica quando suas forças operam em seu nível legítimo. Julgamentos que são válidos para o plano físico não devem ser considerados válidos para os mundos superiores. Cristo, um Ser do reino dos Céus, não do reino da Terra. O pecado individual não está isento da justiça cármica, mas Cristo apaga da evolução da Terra como um todo a dívida e as consequências objetivas do pecado e da culpa. O significado do "perdão dos pecados".
Aula IV, 16 de julho de 1914
As verdades em si mesmas contêm força vital. Cristo tornou-se relacionado à morte porque a evolução do universo tornou necessário que um Deus dos mundos superiores liderasse a evolução da Terra. Os quatro éteres. Cristo veio de regiões fechadas ao homem como resultado da tentação luciférica: das regiões da Música das Esferas (éter químico) e da Vida Cósmica (éter vital). Essas regiões seriam restauradas ao homem através da vinda de Cristo à Terra. O significado da "Ressurreição do corpo". O período terrestre será seguido pelo período de Júpiter, quando duas raças, a boa e a má, se diferenciarão. Uma existência venusiana seguirá a de Júpiter, e novamente haverá um ajuste através da evolução posterior da consciência crística.
https://rsarchive.org/Lectures/GA155/English/RSP1972/
Nota: (1) São Bernardo de Claraval, ou Bernardo de Clairvaux (1090-1153). Fundador da Abadia de Claraval (1115), Mosteiro se tornou um centro de espiritualidade e um dos mais importantes da Ordem Cisterciense.
09 setembro 2025
Hierarquias Espirituais
HIERARQUIAS ESPIRITUAIS
Artigo baseado na Ciência Espiritual de Rudolf Steiner
Em processo de revisão
Sonia von Homrich
Na vida cotidiana, vivemos em um mundo que nos fornece um
fluxo constante de impressões. Existem inúmeros objetos físicos ao nosso redor
dos quais temos uma vaga consciência, mas dos quais podemos repentinamente nos
tornar conscientes se a ocasião surgir. Por exemplo, estamos muito mais
conscientes do carro que quase nos atropela, da pedra do meio-fio que está
desalinhada, do cachorro que rosna ou abana o rabo quando nos aproximamos, ou
do fato de que há tantas pessoas quando tentamos passar por uma multidão. O
mundo físico se torna muito óbvio para nós em todos os objetos sólidos que
encontramos. Mas existem objetos físicos que têm menos solidez, como, por
exemplo, a água e o ar. Assim como os sólidos, nossa consciência da água pode
ser facilmente intensificada — precisamos apenas cair no rio. O ar volátil é um
pouco mais remoto e nossa consciência dele talvez seja aumentada quando está
poluído ou rarefeito, como em uma atmosfera abafada ou no alto de uma montanha
alta. Luz e calor também são mais perceptíveis em sua ausência ou abundância.
Assim, uma infinidade de impressões do mundo natural nos
chega através dos nossos sentidos e nos afeta. Mas, além disso, estamos
sujeitos a influências mais sutis, das quais temos menos consciência. Em um dia
ensolarado, as pessoas tendem a se sentir mais alegres do que em um dia
chuvoso. A estrutura geológica do ambiente também afeta a saúde.
Há também a questão dos relacionamentos humanos. As pessoas
com quem entramos em contato nos influenciam e nós, por nossa vez, as
influenciamos, não necessariamente de forma consciente.
Podemos avançar ainda mais para um mundo menos definível.
Ideias e inspirações vêm à nossa mente. Às vezes, somos levados a ações que
normalmente não realizaríamos. Não é incomum que alguma tragédia seja evitada
por uma intervenção repentina e aparentemente inexplicável. Nesse caso, almas
sensíveis falam de um poder guia ou de um Anjo da Guarda.
Há pessoas que percebem seres na natureza, na terra, na
água, nas flores e nas árvores. Esses espíritos da natureza ou elementais são
conhecidos por outros nomes, como gnomos, ondinas, sílfides e salamandras. Eles
são o "povo pequeno" dos irlandeses. Dizemos que as pessoas com essa
faculdade são um pouco "fadas", ou seja, possuem alguma forma
primitiva de visão espiritual.
Tendo essas questões em mente, podemos dizer que nossa
consciência normal do mundo é parcial. Ela pode, é claro, ser desenvolvida não
apenas em relação ao mundo material, mas também além do mundo imediato da
percepção sensorial.
Podemos ampliar nossa análise. Mesmo uma consideração
superficial do mundo natural ou humano mostrará que ambos são repletos de
infinita sabedoria. A maneira como uma planta cresce, recebe seus nutrientes,
absorve luz, calor e ar, produz flores e sementes, pode ser uma fonte
inesgotável de maravilhas. O instinto que guia um pássaro a construir seu ninho
e cuidar de seus filhotes é nada menos que milagroso. A forma humana é uma obra
de arte e habilidade impressionantes. Olhando para o céu, notamos que os movimentos
do Sol, da Lua e das estrelas são obviamente regulados. Podemos concordar com
Hamlet: "Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha a sua
filosofia".
A maravilha é a porta do conhecimento. Uma contemplação mais
profunda da natureza pode revelar alguns de seus segredos. Pode suscitar na
alma humana uma resposta semelhante a um sentimento religioso. Pode surgir a
questão sobre o que se expressa em objetos e eventos, visto que estes nem
sempre são imediatamente explicáveis em
seu próprio contexto. Podemos, com razão, perguntar por uma instância que
se revela nos fenômenos e, se tal instância existe, qual é a sua
natureza.
Historicamente, exceto em tempos relativamente modernos,
sempre houve uma resposta. Era Deus ou os deuses. Se olharmos para trás na
história por um momento, notamos que os povos antigos tinham faculdades
bastante diferentes do homem moderno. Eles estavam familiarizados com
"deuses". Suas mentes estavam mais sintonizadas com o mundo
espiritual e menos com o físico, e eles tinham consciência de que no mundo
espiritual viviam seres superiores.
Todos os povos primitivos e todas as civilizações passadas
tiveram seus deuses. Os hindus possuíam uma variedade numerosa. Os antigos
egípcios reconheciam que, em algum momento, seres superiores os haviam
liderado, mas se afastaram em favor de líderes humanos ou semi-humanos. Os
gregos e, em menor grau, os romanos, admiravam suas divindades especiais. Os
nórdicos, os celtas e os anglo-saxões tinham as suas.
Os nomes dos deuses ou divindades são tão variados quanto os
povos, e não é nossa intenção listá-los aqui. Mas eles também aparecem na
tradição cristã, e alguns deles são mencionados nominalmente na Bíblia. As
referências a anjos são numerosas. Isaías teve uma visão dos Serafins. São os
Querubins que guardam o Jardim do Éden. Judas se refere ao Arcanjo Miguel; São
Paulo fala de Tronos, Domínios, Principados e Poderes.
No mundo ocidental, os deuses retrocederam, ou seja, com o
desenvolvimento do pensamento e sua preocupação com o mundo material, a visão
espiritual de eras anteriores se perdeu. (Ver capítulo 3.) Isso não significa
necessariamente, porém, que os deuses não existam mais, e para aqueles que,
como Rudolf Steiner, possuem faculdades ampliadas de consciência, o mundo dos
seres superiores ainda é acessível. Se pudermos considerar o mundo material
como uma expressão do físico, então uma compreensão maior será alcançada quando
o papel desses seres for compreendido. Não apenas somos cercados e
influenciados por todos os lados por eventos e objetos físicos, mas também
somos continuamente cercados e influenciados por acontecimentos e seres
espirituais.
O título deste capítulo contém a palavra Hierarquias. Em seu
sentido mundano usual, "hierarquia" é entendida como um grau ou
posição no governo sacerdotal. Em sua derivação, a palavra significa
"governo sagrado". No contexto atual, Hierarquias refere-se às
posições de seres superiores ou angélicos.
Aqui na Terra, o homem vive no mundo físico com os três
reinos inferiores da natureza: o animal, o vegetal e o mineral. Acima dele, no
mundo espiritual, encontram-se três níveis de seres superiores, alcançando a
Divindade, que está tão além dele que é incompreensível em seu atual estado de
desenvolvimento. Esses seres foram ativos na criação do mundo e do homem. Eles
criaram o sistema solar e tudo o que a ele pertence. Eles desenvolveram a Terra
e o homem até seu estado atual. Alguns já se retiraram da participação ativa;
outros ainda estão trabalhando.
Cada categoria tem três membros. Na tabela a seguir, são
apresentados os vários nomes, alguns dos quais característicos da atividade
específica daquele ser.
|
A Divindade |
Primeira Hierarquia |
Serafins, Espíritos do Amor |
Segunda Hierarquia |
Kyriotetes, Espíritos da Sabedoria, |
Terceira Hierarquia |
Archai, Espíritos da Personalidade, Princípios
Primordiais, Principados |
Assim como o homem, as Hierarquias também estão engajadas em
um processo de evolução. Como o homem, elas evoluem por meio de seu trabalho e
experiência. Assim como o homem, elas se desenvolvem em ritmos diferentes. Em
cada estágio de desenvolvimento, alguns membros das Hierarquias falham em
atingir a meta ou renunciam propositalmente a um desenvolvimento normal. Há,
portanto, toda uma série de seres retardados que poderiam ser chamados de
Espíritos da Adversidade. Eles não são malignos em si mesmos, mas fornecem
influências adversas com as quais o homem tem que lidar.
O ser humano está, portanto, exposto às forças do avanço e
do atraso, do bem e do mal, de Deus e do diabo.
No processo de desenvolvimento humano, o homem deixa de ser
um receptor e passa a ser um doador. Quando criança, ele recebe; quando adulto,
ele dá. A evolução das Hierarquias segue esse padrão. Inicialmente, elas
recebem; posteriormente, estão em condições de dar. Assim, as Hierarquias mais
elevadas podem doar sua substância para criar o mundo e o homem. As inferiores
trabalham sob sua direção e, assim, promovem seu próprio desenvolvimento.
O Trabalho das Hierarquias na Criação
O Capítulo 4 trata do desenvolvimento do sistema solar,
incluindo, é claro, a Terra. As agências por trás desse desenvolvimento são as
Hierarquias, que também criaram o homem.
Assim como em um único ciclo de vida o ser humano primeiro
recebe e depois doa, em todo o processo evolutivo, o caminho de desenvolvimento
do homem vai da criação até se tornar um criador. Em linhas gerais, pode-se
dizer que as Hierarquias fornecem substância, impulso e estímulos para
despertar a atividade. A atividade se transforma em vida interior, que então
prossegue sob seu próprio ímpeto e se torna criativa. O homem se tornará
"como Deus".
É necessária uma enorme flexibilidade e amplitude de
espírito para compreender essas questões, mesmo que de forma elementar. Um
pensamento fundamental a ter em mente é que no mundo ao nosso redor estão
preservados os pensamentos dos deuses.
Inicialmente, os membros mais elevados da Primeira
Hierarquia, os Serafins, recebem o impulso da Divindade para criar o homem e um
ambiente no qual ele possa evoluir, ou seja, o sistema solar. Eles contemplam o
mundo futuro, mas sua contemplação é, ao mesmo tempo, um ato criativo que traz
um mundo à existência em uma forma puramente espiritual. Pode-se considerá-lo
um mundo de "ideias". Os Querubins têm a tarefa de transformar as
ideias em planos viáveis e
harmonizá-los com outros sistemas do universo. O
terceiro grupo da Primeira Hierarquia, os Tronos, coloca os planos em prática e
fornece a substância inicial.
Embora pareça um tanto banal, tendo em vista a magnífica
obra da criação, os membros da Segunda Hierarquia, ou seja, os Kyriotetes,
Dynamis e Exusiai, são os artesãos do sistema solar. Os membros da Primeira
Hierarquia são tão evoluídos que estão em posição de serem criadores, ou seja,
de doar ou sacrificar. O que eles doam constitui um estágio inicial. A Segunda
Hierarquia assume o controle para formar um sistema de acordo com o plano,
mantê-lo e começar a trabalhar na formação do corpo físico humano.
Os membros da Terceira Hierarquia, sob a orientação dos
escalões superiores, trabalham no futuro ser humano. Moldam e remodelam a
substância protótipo que um dia abrigará um espírito humano independente;
fornecem estímulos para despertar experiências interiores, como sentir e
pensar. O objetivo é criar um ser (o homem) cujo objetivo evolutivo seja a
independência.
Para compreender isso, é preciso compreender que, por sua
própria natureza, as Hierarquias superiores apenas refletem a Divindade. Elas
não têm liberdade e a questão da liberdade não se coloca. O destino do homem é
diferente. Ele deve adquirir novas e aprimoradas faculdades lutando contra a
adversidade causada pelos membros deixados para trás das Hierarquias. Ao mesmo
tempo, isso lhe dá a possibilidade de cair em erro. Faz parte do plano divino
que ele trabalhe sua própria salvação, que ele eventualmente evolua por meio de
seus próprios esforços. No decorrer dos éons, o homem se tornará a Décima
Hierarquia por direito próprio, porque a terá conquistado.
A obra da criação está tão distante do nosso pensamento
atual que é muito difícil imaginá-la. Duas linhas de pensamento podem ajudar a
compreendê-la.
Uma delas é considerar os diferentes estados da matéria, ou
seja, sólidos, líquidos e gasosos. Na Terra, temos uma substância muito comum
que se apresenta nas três formas. Sob as condições certas, o gelo se transforma
em água e a água em vapor. Com quatro elementos em mente, podemos imaginar um
estágio adicional de atenuação, a saber, o calor. Olhando o processo de forma
inversa, teríamos um processo de condensação — calor, gás, líquido e sólido. No
curso da evolução, uma emanação de um tipo específico de calor tornou-se
matéria, ou seja, substância espiritual cristalizada no físico.
Uma segunda consideração que pode ser útil é considerar uma
planta. Para formar suas raízes, folhas, flores e sementes, uma planta precisa
de substâncias físicas; precisa de luz, ar e água. Mas há algo na planta que
transcende tudo isso, a saber, aquilo que lhe dá sua forma e contornos
particulares, mas que normalmente não é perceptível. Basta um passo para
afirmar que existe uma entidade espiritual manifestando-se em forma física.
O primeiro estágio do desenvolvimento da Terra ou do sistema
solar é conhecido como Saturno Antigo, ou a condição de Saturno, e pode ser
imaginado como uma enorme esfera de calor no espaço que alcançava a órbita do
atual planeta Saturno, tendo o Sol como centro. Mas não era calor no nosso
sentido moderno. Poderíamos chamá-lo de calor espiritual. Era substância de
"vontade", derramada pelo terceiro membro da Primeira Hierarquia, os
Tronos. Eles forneceram a substância inicial já mencionada, mas, novamente, essa
"substância" não tinha substancialidade como a entendemos hoje. Foi
nessa substância dos Tronos que outros seres trabalharam a fim de criar uma
base para o corpo físico do homem.
Visto puramente anatômica e fisiologicamente, o ser humano é
uma obra maravilhosa, mas o corpo físico é portador de outros atributos. É
dotado de uma força vital (corpo etérico); é a expressão física de uma alma
(corpo astral); é o instrumento da individualidade (ego). Em sua construção,
portanto, todos esses pontos devem ter sido levados em consideração. Para que o
homem pudesse se desenvolver de acordo com as ideias da Divindade, o corpo
físico teve que ser dotado de muitas potencialidades. Nos contos de fadas,
temos a imagem das fadas dotando o bebê de várias qualidades. Na história da
criação, são as Hierarquias que concedem os dons.
Na Antiga Saturno, o corpo humano não era físico como o
entendemos hoje. Podemos imaginá-lo como um protótipo, maleável e flexível,
ainda existindo apenas em espírito. Ele precisava ser formado, moldado e
trabalhado para que fosse capaz de suportar e usar os dons que eventualmente
receberia. Assim, as diversas capacidades foram implantadas nele em forma de
embrião.
Nesse estágio, os membros da Hierarquia mais alta atuavam de
fora do globo de calor, na região que hoje chamamos de zodíaco. O antigo
Saturno possuía uma "atmosfera" de seres espirituais. É preciso
imaginar sua influência irradiando-se de todo o círculo, mas diferenciada de
acordo com a direção de onde provém. Ou seja, a influência era modificada pelas
forças das diferentes regiões do zodíaco.
Essas influências hierárquicas estabeleceram a primeira base
para a forma das diferentes partes do corpo, ou seja, cabeça, garganta,
coração, pulmões, etc. Resquícios desse conhecimento ainda eram atuais na Idade
Média, quando se considerava que Áries (o Carneiro) e a cabeça estavam
conectados; Touro (o Touro) e a garganta; Leão (o Leão), o coração, etc.
A Segunda e a Terceira Hierarquias atuavam não de fora, mas
dentro do corpo de calor. Dentre os membros da Segunda Hierarquia, os
Kyriotetes tinham que traduzir os comandos e impulsos de seus superiores em
realidade, os Dynamis forneciam a necessária continuidade de atividade e os
Exusiai mantinham o que era alcançado. Eles tinham uma tarefa em relação ao
homem.
Afirmava-se que o corpo físico deveria ter a possibilidade
de abrigar um corpo etérico, um corpo astral e um ego. Tendo os Tronos
fornecido a substância, era a vez dos Kyriotetes irradiarem suas forças para
ele, para que pudesse posteriormente assumir um corpo etérico. Os Dynamis
faziam o mesmo para o corpo astral e os Exusiai para o ego. Esses eram apenas
passos preliminares.
Os seres da Terceira Hierarquia tinham outras tarefas. Os
Archai promoveram o processo de diferenciação que resultou na base da
personalidade. O resultado do trabalho dos Arcanjos foi produzir os órgãos
germinais dos sentidos, enquanto os Anjos trabalharam nos órgãos germinais da
nutrição e das funções corporais.
Depois de algum tempo, chegou-se a um certo estágio de
conclusão, além do qual nenhum progresso poderia ser feito nas condições dadas.
Por isso, os Tronos, que eram os principais guias do Antigo Saturno, o
dissolveram.
Uma nova esfera precisava ser criada, com uma nova
orientação. Antes que isso pudesse ser constituído, houve um período de
descanso, conhecido como pralaya, o equivalente ao sono na vida humana.
Para compreender a próxima fase, pode-se considerar o que
acontece quando algo queima. Calor é produzido e esse calor se divide em dois
elementos. Algo semelhante a esse processo ocorreu para produzir o próximo
desenvolvimento planetário. O calor de Saturno se dividiu em luz e fumaça (ou
gás). A esfera reconstituída era, no entanto, menor e as forças foram deixadas
de fora, o que se tornou a base do atual planeta Saturno. Sua extensão ia do
Sol atual até a órbita de Júpiter e, como a luz era uma característica dele, é
conhecido como Sol Antigo ou condição-Sol. Era um corpo gasoso radiante. Os
Kyriotetes foram os principais guias nessa fase. Eles foram instrumentais na
condensação da substância do Saturno Antigo no Sol Antigo. Os Espíritos da
Forma, em sua própria evolução, agora eram capazes de renunciar ao seu corpo
etérico. Os Kyriotetes trabalharam essa substância etérica, essa força vital,
juntamente com uma contribuição deles mesmos, nos corpos físicos protótipos do
homem em formação, tendo-os previamente preparado para recebê-la. Pode-se dizer
que, nesse ponto, o ser humano se encontrava em uma espécie de estágio vegetal.
Nem toda a substância do Antigo Saturno havia sido irradiada, de modo que no
Antigo Sol havia outro reino, o protótipo do mundo mineral.
Portanto, nesta fase havia dois reinos da natureza, mas não
como os conhecemos hoje.
Deve-se ter em mente que, por meio de sua atividade, os
seres superiores também evoluíram. Eles tinham, portanto, a possibilidade de se
tornarem mais eficazes. O que havia sido alcançado no Antigo Saturno na
formação do homem agora precisava ser modificado em vista das novas condições e
da outorga do etérico. Assim, todas as potencialidades implantadas no estágio
de Saturno foram agora transformadas em um novo nível.
Novamente houve um período de abstinência e, novamente, um
despertar. Os Dynamis transformaram o Sol Antigo em Lua Antiga e agora eram as
principais agências. A substância gasosa do Sol Antigo foi condensada até uma
consistência quase líquida. A esfera contraída estendeu-se até a órbita de
Marte e é conhecida como Marte Antigo ou Lua Antiga. Novamente, um resíduo de
forças foi deixado do lado de fora, que se manifestou mais tarde como o planeta
Júpiter.
(Ao falar de gás ou líquido, deve-se ter em mente que estes
não são os mesmos que nossos gases ou líquidos atuais. Ainda é preciso
considerá-los como protótipos. O uso da palavra "Lua" pode causar
alguma confusão. Lua Antiga não deve de forma alguma ser equiparada à nossa Lua
atual. É possível que ela derive essa denominação do fato de que os membros da
Dynamis estavam em diferentes estágios de evolução e uma divisão ocorreu na
esfera da Antiga Marte — ou Lua Antiga. Os membros mais avançados formaram uma
colônia que poderia ser chamada de uma espécie de sol e os menos avançados
formaram outra, um satélite que girava em torno dele. Eventualmente, os dois se
uniram novamente.)
No que diz respeito ao desenvolvimento do homem, o astral
foi agora incorporado aos corpos físico e etérico humanos combinados. Os
Dynamis agora emitiam sua própria essência, juntamente com a etérica liberada
pelas Exusiai em evolução, e o futuro ser humano era, portanto, agora dotado de
um terceiro princípio. Novamente, no ambiente transformado e com os novos
poderes, havia mais trabalho para as Hierarquias na adaptação e transformação.
Pode-se dizer que o ser humano estava agora no estágio
animal. Nem toda a substância recebeu o astral e, portanto, havia agora um
protótipo do mundo vegetal, além do mineral.
Após outro pralaya, iniciou-se o quarto período de
desenvolvimento, que trouxe consigo mais contração e condensação. A Terra como
a conhecemos hoje não existia mais, e a nova esfera ainda continha o que mais
tarde seria o nosso Sol atual, a Terra com sua Lua e os planetas menores. (Ver
capítulo 4.) Forças deixadas de fora da nova esfera formaram, no devido tempo,
o planeta Marte.
Um processo semelhante ao que ocorrera antes ocorreu agora.
As próprias Hierarquias se desenvolveram ainda mais, as condições mudaram e
todas as qualidades e órgãos pertencentes ao ser humano tiveram que ser
metamorfoseados. Foi durante esse período que o que era espiritual se
manifestou como matéria física e que o organismo físico do homem foi criado. A
dotação totalmente nova que ele recebeu
era o ego, um presente dos Exusiai, uma gota de sua própria
substância.
As entidades que não estavam suficientemente maduras para
receber o ego formaram o futuro mundo animal.
Antes de lidar com este corpo cósmico composto pelo Sol,
pela Terra e por planetas menores, pode ser útil relembrar a formação do que
agora vemos como Saturno, Júpiter e Marte.
Já foi mencionado o fato de que certos seres não completam
sua evolução. Os Espíritos da Forma normais (Exusiai) estabelecem os limites
das esferas, ou seja, Saturno Antigo, Sol Antigo (Júpiter), Lua Antiga (Marte),
mas os anormais são banidos ou permanecem de fora, trabalhando de fora. Assim,
a cada estágio de contração, há uma perturbação na periferia que se manifesta
no curso do desenvolvimento posterior como planeta. Este, então, é o lar de uma
colônia de seres que se desviaram do fluxo normal.
O corpo cósmico indiferenciado, que mais tarde se dividiu em
Sol, Terra e planetas menores, tornou-se mais denso, mas para o homem, cuja
evolução posterior se daria por meio do contato com um mundo material, ainda
não era suficientemente denso. Para alguns seres, membros das Exusiai, o
ambiente era inadequado e, para seu desenvolvimento posterior, eles se
retiraram, juntamente com seres subordinados por meio dos quais agem, e
formaram o que é o nosso Sol atual. Outros não estavam suficientemente maduros
para acompanhá-los, mas estavam muito avançados para permanecerem nas condições
mutáveis. Estavam em um estágio intermediário e os dois planetas, Mercúrio e
Vênus, separaram-se como suas habitações.
Agora restava uma esfera contraída composta pelas atuais
Terra e Lua combinadas.
Os Espíritos da Forma, os Exusiai (os Elohim dos hebreus),
estão essencialmente ligados à evolução da Terra. Não se ocupam apenas do
homem, mas também são eles que dão ao planeta sua configuração. É no início da
Bíblia que lemos: "No princípio, Deus criou os céus e a terra". Mas,
em vez de "Deus", deve-se ler "Elohim", como está no
original.
Os membros da Hierarquia que haviam estabelecido sua morada
no Sol agora enviavam sua influência daquela direção, mas, se não houvesse uma
força contrária, isso teria resultado em um desenvolvimento desequilibrado na
evolução do homem. Para evitar isso, um dos Exusiai permaneceu na Terra e,
quando, devido a outras influências adversas, a Terra tendia a uma densificação
excessiva, ele removeu as forças mais densas, cujo resultado foi a formação da
nossa Lua atual. O ser humano agora vive em um estado de equilíbrio entre as
forças promotoras do Sol e o efeito retardador da Lua.
(Os papéis de Cristo e Jeová estão conectados com esses
assuntos.)
Em nosso estágio atual de evolução, o homem foi dotado pelas
Hierarquias com corpos físico, etérico e astral, e um ego. Ele recebeu a Terra
como seu local de trabalho e um cenário cósmico. O mundo é uma expressão dos
pensamentos e ações de seres espirituais, mas os próprios seres não estão mais
ativamente engajados na criação, embora sua influência ainda seja efetiva em
certas áreas. O mundo está agora, por assim dizer, completo. O homem é
responsável por ele e por sua própria evolução futura, mas receberá ajuda dos
seres superiores se a buscar da maneira correta. Isso significa um
desenvolvimento de suas próprias faculdades espirituais.
A Terceira Hierarquia, aqueles seres mais intimamente
ligados ao ser humano, ainda estão conosco.
As Esferas das Hierarquias
Com nosso pensamento terreno, sempre há dificuldades em
tentar visualizar as condições do mundo espiritual. No entanto, conceitos
terrenos devem ser utilizados para tentar alcançar algum entendimento. Uma
questão que pode surgir é a relativa à morada das Hierarquias.
Uma resposta curta seria "no mundo espiritual".
Mas o mundo espiritual é um termo geral que abrange muitas regiões. As regiões
podem ser equiparadas às esferas planetárias.
Ao falar de regiões, no entanto, e de seres espirituais, é
preciso lembrar que o espaço no mundo espiritual não tem a mesma qualidade que
no físico. Espaços espirituais, assim como seres espirituais, são
interpenetrantes, e isso é algo a ser lembrado quando o que é descrito é dado
em conceitos espaciais. Os reinos espirituais não existem lado a lado, mas se
entrelaçam. Se um ser humano consegue alcançar a visão espiritual, as regiões
se tornam progressivamente perceptíveis à medida que sua capacidade aumenta.
Com nossa consciência normal, contemplamos o céu azul
aparentemente infinito durante o dia e a escuridão interminável à noite, onde
se espalham os inúmeros pontos de luz que representam estrelas e planetas, e
pensamos em termos de objetos físicos. Mas talvez devêssemos recorrer à
faculdade imaginativa e imaginar esses vastos espaços habitados por incontáveis
seres cuja influência irradia até nós, assim como o calor do Sol.
Olhando um pouco para trás na história, notamos que, na
época da Idade Média, um novo conceito de universo surgiu na mente dos homens.
O centro do universo foi deslocado da Terra para o Sol e os planetas giravam em
torno dele de acordo com leis mecânicas. Estrelas e planetas tornaram-se apenas
objetos físicos. Em tempos ainda mais antigos, na Atlântida ou nas primeiras
culturas dos tempos pós-atlantes (da Índia Antiga à Grécia), as pessoas tinham
uma compreensão diferente. Elas estavam cientes da existência de seres
espirituais no cosmos, e quando os nomes dos planetas eram usados, eles eram
entendidos como centros ou esferas de atividade espiritual. Ainda na época de
São Paulo, seu discípulo íntimo, Dionísio, o Areopagita, proclamou que seres
espirituais viviam no espaço e que a alma podia desenvolver uma percepção
deles.
Desde a época de Copérnico (1473-1543), passamos a
considerar o Sol como o centro do sistema solar, com os planetas, incluindo a
Terra e seu satélite, movendo-se ao seu redor. O ponto de vista mais antigo,
comumente conhecido como ptolomaico, é aquele em que a Terra é considerada o
centro, com a Lua, o Sol e os planetas circulando ao seu redor. Este é o
movimento aparente da nossa Terra. Pensando nas esferas dos planetas em conexão
com as Hierarquias espirituais, a visão ptolomaica está correta. Se considerarmos
também o fato de que a Terra é o cenário atual da evolução humana em todo o
desenvolvimento planetário, uma posição central pode ser atribuída a ela.
Quer se considere a atitude dos povos antigos ou dos
iniciados modernos, para ambos o cosmos está repleto de seres perceptíveis e,
dentro das órbitas planetárias, encontram-se as moradas espaciais das
Hierarquias. A Lua orbita a Terra e, tomando a Terra como centro e a trajetória
circular da Lua ao seu redor, pode-se visualizar uma esfera no espaço. Esta é
interpenetrada pelas esferas cujas órbitas formam outros planetas.
Assim, há uma série de esferas concêntricas, e é nelas que
os diversos seres superiores têm suas habitações. As órbitas marcam os limites
dos reinos de governo de cada membro de cada Hierarquia.
Embora uma determinada esfera seja o lar de certos seres
superiores, isso não significa que eles atuem apenas ali. Por exemplo, os
Espíritos da Forma têm um centro comum na esfera do Sol, mas estabelecem os
limites dos planetas exteriores e também trabalham dentro das esferas assim
delimitadas.
Esfera: |
Habitado por: |
Lua |
Anjos |
Mercúrio |
Arcanjos |
Vênus |
Archai |
Sol |
Exusiai |
Marte |
Dynamis |
Júpiter |
Kyriotetes |
Saturno |
Tronos |
Além de Saturno está a região dos Querubins e Serafins, no
zodíaco.
(Deve-se notar que, ao longo da história, os nomes de
Mercúrio e Vênus foram trocados. O que é chamado de Mercúrio acima é a Vênus
atual e Vênus acima é o Mercúrio astronômico atual.)
Existem planetas além de Saturno, como Urano e Netuno, mas
estes não pertencem propriamente ao sistema solar. Foram formados por seres que
já haviam se retirado do antigo Saturno.
Você está lendo o Capítulo 9 do livro de Roy Wilkinson sobre
Rudolf Steiner e a Antroposofia. Para ler este capítulo desde o
início, clique aqui.
Hierarquias, Terra e Homem
No mundo físico, distinguimos vários reinos naturais. Abaixo
do homem, em ordem decrescente, estão os mundos animal, vegetal e mineral, os
três reinos da natureza. No mundo espiritual, estão os reinos das Hierarquias.
Acima do homem, em ordem crescente, estão as três classes de seres superiores.
A mais próxima do homem é a Terceira Hierarquia, cujos membros são os Anjos, os
Arcanjos e os Arcaítas, e que se ocupam essencialmente do desenvolvimento do
homem.
Um estágio mais avançado que o homem são os Anjos. Eles não
têm corpo físico e não precisam encarnar. Os Anjos têm a tarefa de zelar pelo
homem e guiá-lo em certos assuntos para os quais ele próprio ainda não tem
capacidade.
Um exemplo é a experiência bastante comum de que algum poder
invisível parece nos guiar ocasionalmente. Fazemos coisas inconscientemente e,
ainda assim, olhando para trás, podemos sentir que fomos guiados em uma direção
específica que não era a nossa intenção naquele momento. Falamos de um Anjo da
Guarda, ou um Espírito Guia.
Outra é que, em sua atual condição imperfeita, o homem ainda
não é senhor de si mesmo. Ele controla apenas parte de seu corpo astral, que é
a sede dos desejos, impulsos e impulsos. Com o passar do tempo, ele o
transformará para que se torne um membro superior de seu ser e ele adquira uma
nova faculdade. Uma das tarefas do Anjo é auxiliar o homem nessa tarefa.
Normalmente, o homem não tem consciência do seu Anjo da
Guarda, embora, em circunstâncias particulares, possa às vezes discernir na
alma a presença desse ser superior. Quando, por exemplo, um ser humano realiza
uma tarefa por puro amor, totalmente além de interesses egoístas, ele pode se
tornar consciente de alguma instância suprassensível, que é, na verdade, o seu
Anjo da Guarda.
Os Arcanjos não se ocupam de indivíduos, mas sim de grupos
de pessoas, como nações. A expressão "alma popular" ou "espírito
popular", embora geralmente usada em sentido abstrato, pode ser
interpretada como indicativa de uma realidade. Os Arcanjos são os
espíritos-guia de nações ou povos específicos. É também sua tarefa governar o
relacionamento entre os indivíduos e a nação ou povo.
O próximo nível é o dos Archai, os Primórdios, ou Espíritos
da Personalidade. Enquanto os Anjos se ocupam dos indivíduos e os Arcanjos, da
raça, os Archai têm como missão guiar toda uma época. A expressão
"Espírito dos Tempos" também pode ser considerada uma realidade. Os
Archai têm a tarefa de guiar um período específico, que não se restringe a um
povo específico. Pode-se pensar em termos de épocas culturais como as do
Egito/Caldeia/Babilônia/Assíria ou Grécia/Roma. Os Archai influenciam a encarnação
de certas personalidades cuja presença na Terra é necessária nesses momentos
específicos.
Ao longo da história, os membros da Hierarquia acima tiveram
tarefas especiais em circunstâncias especiais.
Se pensarmos nos tempos antigos, antes que o homem recebesse
o ego, a humanidade poderia ser comparada a crianças que precisam de
orientação. Antes de a Terra se solidificar em sua condição atual, ela passou
por outros estágios, onde, em sintonia com seu desenvolvimento, a estrutura
humana era menos rígida do que é hoje. O período imediatamente anterior ao
nosso foi a Atlântida, e o anterior a essa, a Lemúria. Nesses períodos, a
humanidade era diretamente liderada por seres da Terceira Hierarquia. Arcanjos,
Arcanjos e Anjos agiam por meio da ação humana. As pessoas sentiam a influência
de seres espirituais divinos que inspiravam, mas não encarnavam diretamente.
Havia, no entanto, outros membros da Hierarquia que haviam ficado para trás em
seu desenvolvimento e encarnaram, sobre os quais falaremos mais adiante.
Na Lemúria, não havia fala nem pensamento como os conhecemos
e, portanto, não havia comunicação como a conhecemos. Certos membros dos Archai
permeavam corpos humanos específicos e irradiavam uma influência dos mundos
espirituais que as pessoas aceitavam instintivamente.
Na Atlântida, os Arcanjos atuavam por meio de seres humanos
centrados nos oráculos e eram os sacerdotes da época. Manu (Noé) era um deles.
No final da Atlântida e nos primeiros períodos das
civilizações pós-atlantes, os anjos foram os principais inspiradores, embora
haja alguns casos da presença de Archai e Arcanjos.
Embora não mais ativas na criação, as Hierarquias superiores
ainda têm tarefas a cumprir. Já foi descrito em outro lugar como a Terra é um
de uma série de desenvolvimentos planetários. Os Exusiai têm a tarefa de zelar
para que a humanidade passe corretamente de um estágio para o seguinte. A Terra
é o lugar onde o homem trabalha seu carma atualmente. Ela tem uma forma
particular. Por isso também, os Exusiai, os Espíritos da Forma, são os seres
responsáveis. Mas dentro da forma há um movimento contínuo. No período limitado
de uma vida, as posições relativas da terra e do mar podem não mudar muito,
mas, ao longo de um período mais longo, as relações mutáveis devem ser observadas. Um
exemplo é a mudança na
configuração da Terra desde a Atlântida até os dias atuais. A água e o ar estão em movimento
contínuo. A umidade é atraída para cima, as nuvens se formam e a chuva cai. A explicação de tais questões, conforme
dada pela física, pode ser correta até certo ponto, mas também existem influências mais sutis. Esses movimentos contínuos no planeta podem
ser comparados ao corpo etérico do homem. Eles são uma expressão da vida e são
produzidos pelos Dynamis, os Espíritos do Movimento. Por trás da forma e do
movimento, existe uma espécie de consciência do que deve acontecer. Essa ideia,
essa consciência, está investida nos Kyriotetes, os Espíritos da Sabedoria.
A Terra, contudo, não está sozinha. Ela pertence ao restante
do sistema solar e ao universo. Ela obedece a certas leis, e os agentes que
governam seu caminho pelo espaço são os Tronos, os Espíritos da Vontade.
Harmonizar seu movimento com o restante dos planetas é tarefa dos Querubins, os
Espíritos da Harmonia, enquanto os Serafins, os Espíritos do Amor, regulam o
funcionamento do sistema solar com os demais sistemas.
Em todos os estágios, há membros das Hierarquias cujo
desenvolvimento é incompleto, e o homem vive tanto sob a influência dos seres
normais quanto daqueles que ficaram para trás. Estes foram chamados de
Espíritos da Adversidade, mas é preciso lembrar que eles não são malignos em si
mesmos.
À medida que o homem cresce em força superando obstáculos, a
Divindade achou por bem tornar seu caminho menos direto do que poderia ter sido
para que ele desenvolvesse novas qualidades. Certos membros das Hierarquias
foram persuadidos, ou autorizados, a permanecerem para trás em seu
desenvolvimento. Foi um sacrifício. Sua ação promoveu os interesses do homem,
mas ao mesmo tempo introduziu a possibilidade do mal.
É da natureza dos Anjos refletir as atividades de seres de
nível superior, e quando alguns destes renunciaram a um maior desenvolvimento,
outros Anjos seguiram seu exemplo. Eles receberam um impulso para serem livres,
para desenvolverem uma vida interior. São conhecidos como seres luciféricos.
Devido à sua condição alterada, eles precisavam de um meio
diferente de adquirir experiência e descobriram que uma conexão mais próxima
com o homem poderia proporcionar isso. Isso afetou o homem de tal forma que ele
recebeu forças astrais que não conseguia controlar inteiramente. Assim, embora
seus sentimentos possam dar origem a esforços nobres, eles também podem ser
devotados a fins egoístas. A menos que sejam controlados e guiados por um
elemento superior em seu ser, as paixões, os impulsos e as ânsias do homem
podem levá-lo ao fanatismo e a um estado de espírito em que ele não tem
controle de si mesmo. O poder dos espíritos luciféricos é assim fortalecido.
Eles gostariam de governar o mundo.
Os seres luciféricos persuadiram o homem de que ele poderia
se tornar independente dos poderes divinos. Deram-lhe uma nova faculdade e ele
se tornou consciente do mundo físico. Seus olhos se abriram. Antes disso, ele
vivia em um estado de consciência do mundo espiritual e, portanto, estava
inconsciente das funções corporais. Agora, ele se tornou consciente do processo
de propagação, consciente da doença, da dor e da morte.
Há um propósito para o homem ser influenciado por seres
anormais, mas o que em determinado momento é progressivo para ele torna-se
retrógrado se continuar por um período posterior sob condições diferentes. Para
a experiência e o desenvolvimento mais amplos da humanidade, a diversidade era
essencial. Assim, em certo momento, os espíritos luciféricos dividiram a
humanidade em raças. Por um tempo, isso foi perfeitamente justificado, mas se
se estender além de um certo período, surgem sintomas negativos, como racismo e
nacionalismo.
Foi dito anteriormente que, nos tempos lemurianos e
atlantes, seres da Terceira Hierarquia permeavam corpos humanos e eram líderes
reverenciados, mas também havia alguns que realmente encarnavam plenamente.
Eram aqueles cujo desenvolvimento estava incompleto e ocupavam uma posição
intermediária entre o homem e o Anjo. Tornaram-se os mestres da humanidade e
fundadores de diferentes civilizações.
Nos tempos Lemurianos, a fala era estimulada pelos Anjos
normais e teria sido uniforme por toda a humanidade, mas seres luciféricos
encarnavam em grupos específicos de pessoas e ensinavam línguas específicas.
O contato com o mundo físico trouxe outro perigo ao homem.
Além dos seres luciféricos, existem outros conhecidos geralmente pelo nome que
lhes foi dado na época persa, Ahrimanicos ou Espíritos das Trevas.
Não é intenção aqui tratar do problema do bem e do mal ou da
questão da redenção que inclui a missão de Cristo, mas alguma breve indicação
dessas coisas deve ser dada no contexto do tema geral.
Enquanto as forças luciféricas afastariam o homem da Terra,
as de Ahriman o prenderiam ainda mais a ela. O objetivo destas últimas é
persuadir o homem de que o mundo material é o único que importa.
O homem deve lutar contra esses dois poderes. Para ajudá-lo
a combatê-los, um poderoso Ser espiritual veio à Terra e encarnou em um corpo
humano, trazendo poderes revitalizantes à atmosfera terrestre, por meio dos
quais o homem pode fortalecer suas forças do ego, purificar seu astral e
reconhecer o mundo físico como uma manifestação do espiritual. Este era o
Cristo. Ele não buscou coagir. Nenhum poder superior pode forçar o homem a
fazer o bem. O homem deve se erguer e ser livre por meio de seu próprio esforço
e, eventualmente, redimir seus adversários.
Há outra conexão muito importante entre as Hierarquias e o
homem, a saber, seu encontro, que ocorre durante o período de sono do homem e
no período entre a morte e o renascimento. Há, ou deveria haver, uma troca de
experiências mutuamente benéfica.
Um observador atento a essas questões pode ocasionalmente
perceber uma certa sensação de desconforto ao acordar, algo semelhante a uma
consciência pesada. Isso pode ser devido a um encontro insatisfatório com os
seres superiores. A razão para isso pode estar no que foi dito no dia anterior.
A fala e seu conteúdo não são importantes apenas na vida física, mas têm
implicações muito mais amplas.
O que o ser humano disse durante o dia repercute no mundo
espiritual durante o sono e deveria trazer alegria a certos membros das
Hierarquias. Mas a fala desleixada e o conteúdo materialista não trazem prazer,
o que, por sua vez, inibe os seres superiores de concederem certas forças
revigorantes. Assim, o ser humano sofre uma forma de privação.
Além disso, as próprias Hierarquias sofrem de uma espécie de
subnutrição. O que o ser humano absorve no mundo espiritual tem consequências
para si. Não podem dar se não receberem, e isso é particularmente importante
para o homem em sua jornada pelas esferas após a morte. É tarefa dos seres
espirituais nas regiões celestiais transformar as ações humanas e transformar
os resultados no novo carma que será experimentado em encarnações subsequentes.
A Terceira Hierarquia se ocupa da formação do corpo; a Segunda implanta forças
de atração e aversão, que são um guia para encontrar seres humanos
relacionados; a Primeira Hierarquia ajuda a determinar o caminho que leva aos
eventos e acontecimentos aparentes.
É preciso lembrar que o que o ser humano diz e faz não é
problema somente seu e das Hierarquias, mas afeta o mundo em geral.
As Hierarquias na Natureza
Com nossa consciência normal, vivemos em um mundo físico,
mas esta é apenas uma meia existência. O mundo físico é uma manifestação de
forças espirituais. Se nossas mentes fossem suficientemente desenvolvidas,
perceberíamos essas forças não como abstrações, mas como seres superiores.
Falamos de uma Terra física e de efeitos físicos, mas a
Terra está sujeita a todos os tipos de influências que emanam do cosmos. Os
efeitos do Sol e da Lua são bem reconhecidos e certas influências planetárias
podem ser demonstradas, mas agora podemos pensar um pouco mais além, em
fileiras inteiras de seres espirituais no espaço que também irradiam algo para
a nossa Terra.
Quando consideramos o homem, vemos primeiro seu corpo
físico. Há, no entanto, algo no corpo físico que o mantém vivo — um princípio
ou corpo suprassensível conhecido como etérico. Há algo mais além que é a sede
do impulso e da ânsia — o astral — e, além dele, o guia supremo que chamamos de
ego.
Em relação à Terra, há um arranjo semelhante, mas o que
chamamos de princípios ou corpos são seres. Esses seres são as Hierarquias e
seus descendentes ou servos.
A Terra tem uma existência física óbvia. Na medida em que há
vida no físico, ela tem um etérico. Uma força fornece impulsos e estímulos.
Este é o astral, e há um certo poder orientador que podemos equiparar ao ego.
Consideremos os reinos da natureza abaixo do homem, ou seja,
mineral, vegetal e animal. O mineral é geralmente considerado matéria morta e,
sob certo aspecto, isso está correto. Mas a matéria é algo que se cristalizou a
partir do ser, e se pensarmos nas origens do Antigo Saturno, podemos perceber
que o que se tornou matéria é uma parte da substância calorosa que emanou de um
membro da mais alta Hierarquia, os Tronos. No caso do mineral, a substância não
foi mais vitalizada, mas ainda possui forma e ser interior. Os metais têm
características definidas; as rochas são compostas de várias substâncias que
conferem a cada uma delas um caráter único. O mundo vegetal representa um
estágio posterior de desenvolvimento. Possui uma gama infinita de formas e
maneiras de crescimento. O mundo animal é mais avançado e possui igualmente uma
infinidade de diferenciações.
Uma vez criada, a Terra precisou de um elemento sustentador
e mantenedor. As forças ativas que deram ao mineral seu ser interior, à planta
sua forma e movimento únicos, e a cada espécie animal sua característica
particular, fluem das esferas celestes, as moradas das Hierarquias, mas para
seu trabalho na Terra, as Hierarquias têm assistentes.
Na substância sólida, nas rochas e nos metais, encontram-se
os chamados espíritos da terra. Na névoa, na nuvem e nos borrifos, encontram-se
os espíritos da água. Estes últimos são os seres cuja tarefa é puxar a planta
da terra para cima. Ao redor da flor e do fruto da planta, pairam os seres do
ar, enquanto uma quarta categoria transmuta o calor do ambiente em forças de
amadurecimento.
É a cooperação de todos os espíritos da natureza que forma o
corpo etérico da Terra, e os espíritos da natureza são ajudantes e descendentes
da Terceira Hierarquia. Assim como uma planta produz sementes, as Hierarquias
podem produzir outros seres. A diferença é que uma planta crescerá como sua
mãe, mas os descendentes da Hierarquia não alcançarão o mesmo status.
Por trás da atividade da Terceira Hierarquia está a da
Segunda, que fornece estímulo. O fato de que tudo tem forma, o mundo e todos os
seus habitantes, já foi mencionado. Há uma variedade infinita de formas. A
forma, no entanto, muda no processo de crescimento. Basta pensar na metamorfose
da planta, como a semente se transforma em folha, a folha em flor, a flor em
fruto e o fruto em semente. No animal e no homem há mudança e crescimento, mas
em todos esses desenvolvimentos há sabedoria inata.
Na criação, a Segunda Hierarquia se preocupou em conceder o
astral ao homem, e a Segunda Hierarquia tem descendentes no mundo astral. Estes
são as almas coletivas das plantas e dos animais.
(A alma grupal ou ego grupal pode exigir uma pequena
explicação. No homem, reconhecemos um indivíduo e atribuímos individualidade
humana ao ego. Cada pessoa é uma individualidade por direito próprio, mas isso
não se aplica ao reino vegetal ou animal. Embora um único animal possa ter suas
idiossincrasias, notamos que sua natureza e comportamento são muito semelhantes
aos de todos os outros animais daquela espécie em fundamentos. No entanto, cada
espécie é individual e, portanto, pode-se falar da individualidade de uma
espécie, conhecida também como alma grupal ou ego grupal. O mesmo se aplica às
plantas.)
Também na esfera astral, dando instruções aos espíritos da
natureza, estão outros seres que são descendentes da Primeira Hierarquia.
A Primeira Hierarquia consiste — por assim dizer — de
diretores, originadores. Assim como o ser humano vive em certos ritmos, por
exemplo, a mudança rítmica entre o sono e a vigília, o mesmo ocorre com a
Terra. Há forças que influenciam o florescimento e o murchamento das plantas, a
alternância do dia e da noite, a mudança das estações, a duração da vida dos
animais. Essas forças emanam da Primeira Hierarquia, mas são administradas por
seus descendentes, conhecidos como os Espíritos da Rotação do Tempo. Esses
seres governam tudo o que ocorre nos ritmos da natureza, tudo o que depende de
acontecimentos repetidos.
Poderíamos então resumir a influência das Hierarquias na natureza da seguinte forma, lembrando os intermediários:
Nas forças dos elementos |
Terceira Hierarquia |
Na forma e metamorfose |
Segunda Hierarquia |
Nas origens das leis e dos ritmos |
Primeira Hierarquia |
Quando o ser humano utiliza seus sentidos (ou seja, visão,
audição, olfato, paladar, tato), ele se torna consciente dos objetos no mundo
físico. Ele pode formular pensamentos sobre esses objetos em relação às suas
forças, leis e até causas, mas, em última análise, os objetos têm
"ser", e esta é uma entidade espiritual. Em algum estágio futuro de
sua evolução, o homem desenvolverá novas capacidades que lhe darão consciência
das Hierarquias enquanto ainda for um habitante do mundo físico.